Segundo o professor Rogério Luiz Moraes Costa, coordenador de graduação do Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP), geralmente a 'porta de entrada' dos músicos na universidade é a prova de habilidades específicas, pois é lá que serão avaliados os detalhes técnicos do candidato. "O vestibulando não pode imaginar que ele vai entrar na faculdade de música sem ter a mínima noção sobre música. A gente tenta deixar isso bem claro no manual de inscrição", afirma.
De acordo com Costa, o candidato que quer ser aprovado em um curso superior de música precisa ser "alfabetizado musicalmente", já que na universidade ele vai apenas aperfeiçoar e aprofundar os seus conhecimentos. "É preciso ficar claro que o candidato não vai aprender a tocar o instrumento na universidade", diz o professor.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também tem um rígido processo de seleção, além do vestibular tradicional. Segundo o professor Carlos Fernando Fiorini, coordenador de graduação do Departamento de Música, o candidato faz cerca de cinco provas de habilidades específicas antes de ser aprovado. E para ter o direito de fazer a prova de aptidão, é preciso ter sido aprovado na primeira fase do vestibular.
Segundo Fiorini, a prova de habilidades é bastante específica e muito criteriosa. "O candidato precisar ter pelo menos uns cinco anos de experiência. Ele precisa saber tocar muito bem para ser aprovado", explica o professor, que acrescenta que o curso superior funciona como uma pós-graduação, já que o músico não vai aprender a tocar na faculdade.
Segundo os professores, os alunos fazem algumas disciplinas básicas em conjunto, como história da música, percepção e leitura, harmonia e contraponto. As aulas específicas e de aprofundamento geralmente são ministradas individualmente. Os alunos também podem cursar disciplinas optativas.
As carreiras de licenciatura e bacharelado devem ser cumpridas em quatro anos. Já as habilitações em composição e regência são cumpridas em cinco e seis anos.
O diploma de curso superior não é uma exigência para o músico conseguir a habilitação profissional. "A universidade possibilitará ao músico ter uma formação geral mais ampla e mais aprofundada. Para trabalhar no mercado, o diploma não faz diferença. Ele vai ser fator determinante para o músico que quiser seguir carreira acadêmica", afirma o professor Fiorini.
Os músicos precisam tirar a carteira oficial nos conselhos regionais e quem não tem curso superior faz uma avaliação no local. "É o que chamamos de músico prático. São aqueles profissionais que aprenderam a tocar em conservatórios, em aulas particulares ou até mesmo sozinhos. Para ele conseguir o título e o registro de profissional ele precisa passar por uma avaliação com uma banca de especialistas", explica João Batista Viana, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil.
Segundo Viana, o Brasil possui cerca de 800 mil músicos profissionais. Com a habilitação, eles podem atuar em bares, casas noturnas, escolas de música e universidades (para os formados em licenciatura), bandas, orquestras sinfônicas, orquestras de peças teatrais, entre outras.
De acordo com o Conselho Federal, 80% dos músicos não trabalham na área e apenas 5%conseguem se consagrar na carreira. Os demais atuam por conta própria em escolas, bandas, etc.
Para Viana, o campo de trabalho piorou com a explosão da música eletrônica e dos DJs. "A maioria dos músicos está desempregada. Conheço alguns que trabalham como seguranças, outros que trabalham quando dá. Toda a área está ruim, o mercado piorou muito nos últimos dez anos", afirma.
A mesma opinião é compartilhada pelo músico Roberto Bueno, vice-presidente do Conselho Regional dos Músicos de São Paulo. "A coisa está realmente ruim e a situação está mais complicada para os músicos. Os DJs tomaram o nosso lugar e hoje em dia é cada vez mais raro ter festas com música ao vivo. O preço é mais alto e nem sempre as pessoas estão dispostas a pagar mais", avalia Bueno.
Não existe um piso salarial nacional, mas tabelas de preços e cachês organizadas pelos sindicatos dos músicos de cada estado. Os valores, segundo Viana, variam muito de acordo com cada profissional, a quantidade de horas e de músicos envolvidos.
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