A geração fotovoltaica - pela qual a luz do Sol é convertida diretamente em energia elétrica - deve ganhar espaço na matriz brasileira nos próximos anos, mas de modo mais sutil.
De acordo com Roberto Meira Júnior, coordenador-geral de Fontes Alternativas e Renováveis do Ministério das Minas e Energia (MME), "a previsão [no Brasil] é adotar o modelo de geração distribuída", no qual os painéis fotovoltaicos são instalados nos telhados de casas ou outros tipos de edifício, gerando eletricidade de baixa ou média tensão que é, então, inserida na rede, e não o modelo de geração centralizada, no qual grandes áreas de solo são cobertas por painéis solares.
"A energia fotovoltaica vai acontecer no Brasil", disse ele, ao falar durante o 4º Congresso Brasileiro de Energia Solar e 5ª Conferência Latino-Americana da Sociedade Internacional de Energia Solar, evento realizado no Memorial da América Latina na última semana. "Mesmo porque, a lei exige a diversificação das fontes. Mas a mesma lei também exige modalidade tarifária, e a fotovoltaica impacta na tarifa".
Meira Júnior disse ainda que o governo não pretende realizar, por ora, um leilão para compra de energia fotovoltaica, embora acrescentando que algo assim poderá ocorrer no "médio prazo", sem dar mais detalhes.
Custos e China
Números apresentados durante o evento por Juarez Lopes, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indicam que, enquanto a geração solar centralizada ainda se mostra cara demais para a realidade brasileira, com um custo estimado de R$ 300 a R$ 400 por megawatt-hora - ante cerca de R$ 100 cobrados, hoje, pela energia eólica - a geração distribuída já pode ser economicamente compensadora em algumas partes do Brasil.
Conclusão semelhante foi apresentada por Ricardo Rüther, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Tanto Lopes quanto Rüther, no entanto, apontaram algumas dificuldades para que o cenário de geração distribuída se consolide no País.
Mesmo reconhecendo as vantagens naturais do Brasil para a adoção desse tipo de geração elétrica, como a alta incidência de luz solar ao longo de todo o ano em vários Estados e a abundância do silício, matéria-prima dos coletores solares, Lopes falou do desafio que a produção de insumos para a geração fotovoltaica representa para a política industrial brasileira: "A China produz 32 vezes mais painéis do que consome. O governo está interessado em desenvolver a indústria nacional, o que é difícil, porque a China tem a capacidade de produzir muito, e produzir barato".
Ele também disse que a instalação de geradores fotovoltaicos domésticos, hoje, só seria interessante para pouco mais de 2% dos domicílios nacionais, que são os que consomem eletricidade em quantidade suficiente para viabilizar a instalação do sistema. "O brasileiro, em média, ainda consome muito pouca eletricidade", afirmou.
Melhor que poupança
Rüther, por sua vez, apresentou dados de uma tese de doutorado que sugerem que, para uma residência de Belo Horizonte, pode ser mais vantajoso, em termos econômicos, investir dinheiro num sistema fotovoltaico - e colher a economia na conta de luz - a deixá-lo rendendo juros na caderneta de poupança.
Mesmo assim, o pesquisador da UFSC apontou obstáculos ao uso da energia fotovoltaica no Brasil, como a legislação atual do setor energético e a necessidade de financiamento para o capital necessário à montagem dos sistemas fotovoltaicos em imóveis residenciais ou comerciais.
Fernando Ramos Martins, pesquisador do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que ao lado do colega do Inpe Enio Bueno Pereira e de dois pesquisadores da Universidade de Oldenburgo, na Alemanha, apresentou alguns trabalhos sobre a importância estratégica da meteorologia com o aumento do uso do sol e do vento na matriz energética, comentou com a reportagem o que acredita estar faltado para que o Brasil decole no setor da energia solar: "Precisamos de mais mão-de-obra qualificada".
Fonte: Carlos Orsi - Inova Unicamp
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