A nova técnica utiliza a bactéria Wolbachia para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti de forma natural e autossustentável.
O projeto integra o esforço internacional sem fins lucrativos do programa Eliminate Dengue: Our Challenge (Eliminar a Dengue: Nosso Desafio), que já está testando o método na Austrália, Vietnã, Indonésia e, agora, no Brasil.
Atualmente, 2,5 bilhões de pessoas em 100 países estão sob ameaça de contrair o vírus, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A estratégia foi anunciada nesta segunda-feira (24/9), no Rio de Janeiro.
Vacina para o mosquito
Os cientistas demonstraram em laboratório que, quando é introduzida no Aedes aegypti, a Wolbachia atua como uma "vacina" para o mosquito, bloqueando a multiplicação do vírus dentro do inseto.
Como consequência, a transmissão da doença é impedida.
Naturalmente presente em cerca de 70% dos insetos no mundo, a Wolbachia é uma bactéria intracelular, e não existem evidências de qualquer risco para a saúde humana ou para o ambiente, segundo os pesquisadores.
O método de controle se baseia na soltura programada dos mosquitos com Wolbachia, que, ao se reproduzirem na natureza com mosquitos locais, passam a Wolbachia de mãe para filho por meio dos ovos.
Com o passar do tempo, a expectativa é de que a maior parte da população local de mosquitos tenha Wolbachia e seja incapaz de transmitir dengue.
Como a bactéria impede a transmissão da dengue
A característica intracelular da Wolbachia (apenas vive dentro de células) impõe limitações significativas na sua capacidade de dispersão, uma vez que ele só pode ser transmitida verticalmente (de mãe para filho) por meio do ovo da fêmea de mosquito.
Como resultado, o sucesso do Wolbachia está diretamente ligado à capacidade de reprodução do inseto.
Curiosamente, a Wolbachia confere uma vantagem reprodutiva: devido à característica chamada de ‘incompatibilidade citoplasmática’, fêmeas com Wolbachia podem se acasalar com sucesso tanto com machos com Wolbachia quanto com machos sem a bactéria.
E, quando as fêmeas sem Wolbachia se acasalam com machos com a Wolbachia, alguns ou todos os óvulos fertilizados morrem. Isso significa que, comparativamente, fêmeas com a Wolbachia produzem mais ovos, que vão originar novos mosquitos que já nascem naturalmente com a Wolbachia.
Inicialmente, esta vantagem reprodutiva será pequena, com poucos Aedes aegypti com Wolbachia na população de mosquitos.
No entanto, com as sucessivas gerações, o número de mosquitos machos e fêmeas com Wolbachia tende a aumentar, até que a população inteira de mosquitos tenha esta característica.
Uma vez estabelecido o método, os mosquitos continuam a transmitir a Wolbachia naturalmente para seus descendentes, assegurando desse modo que não há a necessidade de intervenções adicionais.
Teste no campo
Caso os testes sejam bem-sucedidos, o uso da Wolbachia tem o potencial de ser uma tecnologia autossustentável, uma vez que a perpetuação da característica é garantida no processo reprodutivo do mosquito, dispensando os custos de soltura continuada no ambiente. "Nossa expectativa é de que este método possa beneficiar milhões de pessoas que atualmente vivem em áreas endêmicas, de forma autossustentável e economicamente viável, sem danos ao ambiente", afirma Luciano Moreira, da Fiocruz Minas Gerais e líder do projeto "Eliminar a Dengue: Desafio Brasil".
Até o momento, os estudos comprovaram dois aspectos centrais: que, em ambiente de laboratório, a Wolbachia é capaz de bloquear o vírus da dengue no mosquito e que os mosquitos com Wolbachia conseguem facilmente predominar em populações locais.
Na atual fase, a estratégia será testada em países endêmicos, como Brasil, Vietnã e Indonésia, para verificar a viabilidade da estratégia entre populações locais de mosquitos.
Fonte:
Redação do Diário da Saúde
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