Cientistas suecos criaram o primeiro circuito integrado químico.
O chip é capaz de fazer cálculos e operações lógicas como um circuito integrado eletrônico comum.
A diferença crucial é que, em vez de eletricidade, o circuito usa
compostos químicos circulando através de canais iônicos, similares aos
existentes nos seres vivos.
O chip químico é uma decorrência natural de um trabalho divulgado em
2010, quando Klas Tybrandt e seus colegas criaram um transístor iônico,
cujo funcionamento depende não de uma corrente de elétrons, mas de um
fluxo de íons.
Os transistores iônicos transportam tanto íons positivos quanto negativos, assim como biomoléculas.
Processamento químico
Nesses últimos dois anos, os pesquisadores trabalharam na combinação
dos transistores iônicos negativos e positivos, criando circuitos
complementares e portas lógicas similares à organização dos transistores de silício nos chips eletrônicos.
A similaridade com os processadores eletrônicos é praticamente total:
o circuito integrado químico baseia sua lógica em transistores de
junção iônicos bipolares, que permitem a montagem de inversores e portas
lógicas NAND de tipo np (negativo-positivo) e pn (positivo-negativo).
O consumo de energia é baixo e o circuito é totalmente funcional nas
condições de altas concentrações salinas típicas dos seres vivos.
Mas a grande vantagem de um processador químico é que ele poderá
controlar diretamente as sinalizações celulares, abrindo o caminho para a
conexão de circuitos eletrônicos diretamente a seres vivos.
E não apenas a aplicação de fármacos ou a chamada "entrega de
medicamentos", mas o roteamento e liberação de padrões complexos de
moléculas, de fato controlando o comportamento dos "circuitos
fisiológicos".
Controle fisiológico
Embora ainda esteja nos estágios iniciais de desenvolvimento, o
processador químico terá potencial para mudar totalmente a forma como
são controladas as próteses e os implantes médicos, abrindo
possibilidades inteiramente novas para os campos da biônica e da biomecatrônica.
Onde hoje existe um circuito eletrônico para disparar uma corrente
elétrica e acionar um nervo, por exemplo, poderá haver a saída de um
transístor químico, por onde poderão sair substâncias químicas
específicas - os íons - de acordo com a função que se deseja ativar nas
células vivas.
"Nós poderemos, por exemplo, enviar sinais para as sinapses, em
pontos onde o sistema de sinalização não esteja mais funcionando por
alguma razão," disse Magnus Berggren, que coordenou o desenvolvimento do
chip químico.
Antes disso, nos próprios laboratórios, os cientistas poderão
estabelecer condições onde os experimentos terão níveis de controle que
não são possíveis hoje, por exemplo, testando a aplicação de um
quimioterápico e, simultaneamente, fármacos adicionais que limitem seus
efeitos colaterais.
Controle de neurotransmissores
Os testes iniciais do chip químico, a exemplo do que já ocorrera com
os transistores iônicos, foram feitos usando o neurotransmissor
acetilcolina.
O chip químico é capaz de controlar a liberação da acetilcolina, por
sua vez controlando células musculares, que são ativadas quando entram
em contato com a substância.
O próximo passo da pesquisa será construir todas as portas lógicas químicas, de forma a montar um processador químico completo.
Como seu funcionamento deverá ser similar ao dos processadores
eletrônicos, sua fabricação e adoção deverá ser muito mais rápida do que
os chamados "processadores biológicos".
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