As calculadoras eletrônicas aposentaram as calculadoras mecânicas e os computadores aposentaram as máquinas de escrever.
Quem então poderia estar interessado em um computador mecânico?
A resposta vem rápida: todos aqueles que lidam com aplicações sujeitas e elevados níveis de radiação.
Isso envolve todos os circuitos que devem funcionar no espaço, como
satélites de comunicação, sondas espaciais e naves, atuais ou futuras.
Aqui embaixo, os exemplos incluem usinas nucleares e salas de exames médicos onde são usados equipamentos radiológicos.
Isto porque a radiação ionizante interfere fortemente com os
circuitos eletrônicos, o que exige que, para esses usos, todos os chips
precisem ser fortemente blindados.
Portas lógicas mecânicas
Cientistas já criaram um processador a ar, uma memória RAM líquida e acreditam ser possível construir um computador que funcione com calor.
Agora, Faisal Chowdhurya e seus colegas da Universidade de Utah, nos
Estados Unidos, construíram portas lógicas, elementos capazes de
executar cálculos básicos, inteiramente mecânicas.
As portas lógicas são formadas por unidades compostas por duas
lâminas superpostas, que se cruzam, tendo no centro do cruzamento um
eletrodo de tungstênio. Quando uma carga elétrica é aplicada aos
eletrodos, as duas se atraem e fecham o contato.
Quando elas estão abertas está representado um 0, e 1 quando elas se fecham.
Circuitos à prova de radiação
Cada uma das portas lógicas substitui 14 transistores eletrônicos - cada chave é um MEMS (micro-electro-mechanical system, ou sistema microeletromecânico).
Por outro lado, as portas lógicas mecânicas medem 25 micrômetros
quadrados, o que é 1.000 vezes maior do que os transistores atuais.
Contudo, o objetivo do projeto não é equivaler a miniaturização dos
processadores eletrônicos, mas construir processadores à prova de
radiação. E, como não possuem canais semicondutores, os MEMS não são
afetados pela radiação.
Os cientistas comprovaram isto colocando seus "processadores
mecânicos" no interior do reator nuclear de pesquisas da Universidade.
Eles funcionaram lá dentro durante três testes, cada um com duração de
duas horas.
"Equipamentos eletrônicos precisam de um canal semicondutor para
transportar a corrente, e esse canal é controlado por cargas elétricas,"
explica o professor Massood Tabib-Azar, coordenador da equipe. "A
radiação cria correntes no interior do canal semicondutor, e isso
destrói a capacidade do circuito em controlar a corrente, e o sinal se
perde."
Casos de radiações mais intensas podem ser mais danosos, literalmente "fritando" os transistores.
O pesquisador cita o caso dos robôs usados para inspecionar os reatores nucleares de Fukushima.
"Os robôs foram enviados para monitorar os reatores, mas eles pararam
de funcionar em poucas horas porque sua parte eletrônica pifou," disse
Tabib-Azar.
Problemas dos MEMS
MEMS, contudo, têm seus próprios problemas, como uma tendência de que
suas peças grudem umas nas outras ou, ao contrário, desgastem-se
rapidamente pelo atrito.
O pesquisador defende sua abordagem, afirmando que o fato de que cada
MEMS substitui uma porta lógica inteira, e não um transístor, pode ser
menos problemático.
Além disso, "chaves mecânicas normalmente exigem tensões elevadas
para serem acionadas. Nós deixamos intervalos muito pequenas entre as
pontes nas portas lógicas, e isso nos permite ativá-las com 1,5 volt,"
afirma.
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