A pesquisa, conduzida pela engenheira de alimentos Patricia Goldschmidt Lins, consiste em submeter amostras de carne bovina fresca moída a um campo magnético.
Os testes iniciais indicaram que as amostras tratadas com o "magneto freezer" - como está sendo chamado o aparelho - levaram mais tempo para escurecer.
De acordo com a pesquisadora, a carne escurece naturalmente devido à oxidação da mioglobina quando em contato com o oxigênio do ambiente. "A mioglobina é uma proteína responsável pela coloração da carne. Na carne fresca a coloração é vermelha, mas com o contato com o oxigênio, a cor vai se tornando amarronzada", explica Patricia.
Segundo ela, a mudança de cor não significa necessariamente perda de qualidade do produto, mas o consumidor acaba por rejeitar a carne quando ela está com essa cor amarronzada.
Magnetismo nos alimentos
Patrícia conta que já é sabido na literatura científica que campos magnéticos de alta intensidade afetam a matéria orgânica.
Na área de alimentos, muitos trabalhos tem avaliado o efeito de campos elétricos para conservação, mas no que diz respeito a campos magnéticos de intensidade relativamente baixa, não existem muitos relatos na literatura científica.
"A mioglobina, em contato com o oxigênio, se transforma em metamioglobina, que é a sua forma oxidada. O átomo de ferro presente na proteína perde elétrons em contato com o oxigênio do ar. Os pulsos magnéticos emitidos pelo 'magneto freezer' podem interferir neste processo", explica. Magneto freezer foi desenvolvido especificamente para esta pesquisa
O magneto freezer é uma espécie de frigobar, medindo 1,5 metros (m) de altura, 45 centímetros (cm) de profundidade e 0,5 m de largura. Uma de suas prateleiras contem um conjunto de bobinas que medem 20 cm de diâmetro cada. É dentro dessas bobinas que são emitidos os pulsos magnéticos.
Freezer magnético
Os testes foram realizados com cortes bovinos provenientes de um frigorífico da região de Pirassununga. Os cortes, do tipo peixinho, são de animais da raça Angus.
As peças foram moídas na hora e colocadas em bandejas de isopor e embaladas em filme plástico. Todas as amostras foram armazenadas no magneto freezer a uma temperatura de 4 graus Celsius (4ºC).
Parte dessas amostras recebeu os pulsos magnéticos, em um processo que variou de duas horas até 12 dias. A frequência também variou entre 1 e 30 Hertz. As outras amostras (controle) não receberam esta intervenção.
Os resultados iniciais indicaram que as amostras que receberam o tratamento com os pulsos magnéticos demoraram mais tempo para escurecer. "Percebemos uma menor quantidade de metamioglobina na carne que recebeu os pulsos", destaca a pesquisadora.
Apesar de os resultados parciais indicarem que o magneto freezer pode ajudar na conservação da carne, Patricia lembra que é preciso realizar outros estudos, usando, por exemplo, carne embalada a vácuo e com atmosfera modificada, além de outros tipos de embalagens e alimentos.
Avaliação do equipamento
A pesquisa está sendo realizada para o mestrado de Patricia, sob a orientação da professora Mariza Pires de Melo, do Departamento de Ciências Básicas da FZEA, e deverá estar concluído no próximo ano.
O magneto freezer foi desenvolvido no Laboratório de Física Computacional (Lafac) da FZEA pelo professor Ernane José Xavier da Costa, do Departamento de Ciências Básicas.
O magneto freezer foi construído especificamente para esta pesquisa, a fim de testar os efeitos do campo magnético nos alimentos.
O estudo de Patrícia é o primeiro a usar o equipamento. A pesquisa permitirá avaliar também questões relativas ao equipamento como, por exemplo, o consumo de energia, estabilidade térmica e outros parâmetros.
Fonte: Valéria Dias - Agência USP
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