Em uma parte remota da província de Guizhou, no sul da China, começou a construção de mais uma obra gigantesca de engenharia, bem ao gosto dos chineses.
Radiotelescópio de 500 metros
Prometendo transformar a radioastronomia, começou a ser construído o FAST - Five-hundred-metre Aperture Spherical radio Telescope) - radiotelescópio de abertura esférica de quinhentos metros.
Será um único disco medindo, conforme expresso em seu nome, 500 metros de diâmetro, ocupando o interior de um relevo que lembra uma cratera.
Um conjunto de grandes motores será capaz de alterar a forma de sua superfície reflexiva, permitindo que o FAST faça varreduras de grandes áreas do céu.
Isso tornará o FAST três vezes mais sensível do que o radiotelescópio de Arecibo.
Com isso, os astrônomos esperam descobrir milhares de novas galáxias e outros corpos celestes do chamado céu profundo, a até 7 bilhões de anos-luz de distância.
Cratera cárstica
A província de Guizhou é repleta de depressões cársticas inacreditáveis, buracos formados pela água que corroeu as rochas calcárias durante eras.
Usando uma combinação de imagens de satélite e levantamentos aéreos, os astrônomos liderados por Rendong Nan, do Observatório Astronômico Nacional, em Pequim, selecionaram uma depressão com 800 metros de largura.
O incrível buraco é rodeado por montanhas, suficientemente longe dos centros populacionais para ser livre de interferência de frequências de rádio.
Os trabalhadores vão escavar um milhão de metros cúbicos de solo para dar à depressão a forma hemisférica necessária para apoiar a antena.
A construção do FAST está programada para terminar em setembro de 2016.
Maior antena do mundo
A gigantesca antena, que será a maior da Terra, será formada por 4.400 painéis de alumínio triangulares.
Os painéis serão interligados em nós, que poderão ser movidos para cima e para baixo através por um cabo ou por um sistema de motores, alterando a forma da superfície do prato.
Apesar de ter sido inspirado por Arecibo, o FAST tem diferenças importantes.
O prato de Arecibo tem uma curvatura esférica fixa. Isso significa que as ondas de rádio recebidas são focalizadas em uma linha acima da antena. Espelhos secundários e terciários ficam suspensos acima, para focalizar a linha em um ponto, que pode então ser processado pelos instrumentos.
Em um dado momento, apenas 221 dos 305 metros da antena estão sendo usados para efetivamente estudar o céu.
Foco ajustável
Para o prato de 500 metros de largura do FAST, espelhos pendentes desse tipo pesariam 10.000 toneladas.
Assim, os engenheiros do FAST decidiram usar o próprio prato para focalizar o sinal.
Para fazer isso, um subconjunto dos painéis na superfície do FAST serão movidos para formar um espelho parabólico de 300 metros de diâmetro - do tamanho do prato inteiro de Arecibo.
Esse pequeno prato poderá ser formado em qualquer lugar da superfície de 500 metros, permitindo que o FAST rastreie objetos e estude diferentes partes do céu em um campo de visão muito maior.
Pendurado acima da antena, um receptor vai recolher o sinal focalizado, permitindo o estudo simultâneo de 19 regiões do céu, em diferentes faixas do espectro radioelétrico - Arecibo só consegue estudar sete regiões a cada momento.
Relatividade e extraterrestres
Os astrônomos e astrofísicos acreditam que o FAST descobrirá milhares de objetos que nos ajudarão a entender melhor o universo. As observações de pulsares e restos de estrelas prestes a se tornar supernovas ajudarão a fazer uma espécie de sintonia fina da teoria da relatividade geral de Einstein.
Dezenas de milhares de novas galáxias - invisíveis aos telescópios ópticos - surgirão quando o FAST captar tenuíssimas emissões de rádio do gás hidrogênio neutro que elas contêm.
Isso dará pistas sobre a natureza da matéria escura e a evolução das galáxias.
Para os alvos mais perto da Terra, o FAST irá juntar-se ao projeto SETI, em sua busca por inteligência extraterrestre.
Ele será capaz de escutar 5.000 estrelas como o Sol em busca de transmissões alienígenas.
"O FAST poderá detectar um transmissor, semelhante ao radar da antena de Arecibo, a uma distância de mais de 1.000 anos-luz", diz Seth Shostak, do Instituto SETI.
Fonte: New Scientist
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