domingo, 28 de setembro de 2008

GUIA DE CARREIRAS: Engenharia de Alimentos

Você vai ao supermercado e compra um congelado. Chega em casa e: surpresa! O alimento não está lá essas coisas. Pode ter havido descongelamento na hora de transportar a carga, problemas de armazenagem ou outras inúmeras hipóteses de falhas. O fato é que, em cada etapa, desde a produção até o consumo, há engenheiros de alimentos envolvidos. E são eles, junto de profissionais da química, biologia, nutrição, que podem melhorar a qualidade do produto industrializado que chega à sua mesa.

“Os produtos brasileiros têm muito a serem aperfeiçoados. Muitos ainda têm aquele gosto de produto congelado ou problemas na textura, que ocorrem por causa do tipo de congelamento”, diz Adilma Regina Pippa Scamparini, que coordena a câmara da modalidade de engenharia química do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) de São Paulo.

A pesquisadora, sempre que visita outras cidades, até mesmo no exterior, procura conhecer os mercados, já que considera que “a alimentação é o retrato de um povo”. “Também compro todos os lançamentos de produtos para conhecer”, diz.

“Essa é uma profissão extremamente valorizada. É muito bacana o que se pode fazer. O profissional pode trabalhar em diversas áreas e a carreira é muito dinâmica”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Engenheiros de Alimentos (Abea), Rogério Andrada.

Perfil profissional

Como os campos de trabalho são variados, estudantes com diferentes características pessoais conseguem se encaixar no mercado da profissão. “Quem é introvertido, vai se dar bem em controle de qualidade; mas não em vendas, por exemplo. Quem trabalha com desenvolvimento, é porque tem maiores conhecimentos sobre o produto. Em vendas, é preciso ter bom relacionamento. Quem faz projeto das indústrias, precisa ser bom de engenharia”, afirma Andrada.

Para trabalhar, o pré-requisito é ser filiado ao Crea. De acordo com o conselho, o piso salarial recomendado é o de seis salários mínimos, que equivalem atualmente a R$ 2.280.

Áreas promissoras

De acordo com Adilma, uma das áreas aquecidas é a de marketing, que compreende, por exemplo, a avaliação das impressões dos consumidores sobre os produtos. “Também há muito espaço para desenvolvimento de novos produtos. O que é importado da Europa precisa ser adaptado para a realidade brasileira”, afirma.

Apostas para o futuro são a pesquisa de novos produtos a partir da biotecnologia. O nome parece estranho, mas a atividade está se tornando bem conhecida: xampus com aroma de chocolate são um exemplo.

Outra área que despontou com a globalização foi a de logística. “As panificadoras pequenas, estão desaparecendo. É o supermercado que passou a concentrar a indústria de pães”, exemplifica Adilma. Segundo ela, outros tipos de profissionais necessários são os que trabalham com a higiene da linha de produção, com o cuidado dos resíduos e com a procura de novas embalagens menos agressivas ao meio ambiente.

No país, os mercados têm suas diferenças regionais. No Nordeste, por exemplo, a produção de carnes tem destaque; no Sul, frango e cereais, por exemplo. Mas, de acordo com a conselheira, o que as empresas procuram é apenas uma coisa: técnicos bem formados.

Engenharia de alimentos tem espaço garantido

Sempre vai haver espaço de atuação para um engenheiro de alimentos. E isso se deve a uma razão bem simples: a humanidade precisa comer. As necessidades da população sofrem alterações e, na mudança dos produtos, há um engenheiro de alimentos trabalhando para produzir em larga escala

Segundo o coordenador do curso de engenharia de alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcelo Alexandre Prado, nos últimos 20 anos, o número de faculdades subiu de sete para mais de 50.

“No passado, só o pai trabalhava nas famílias, e a mãe e a avó tinham tempo de preparar a comida. Hoje, não existe mais isso. É preciso buscar alimentos de fácil preparo e aí entra a engenharia de alimentos. A vida mais agitada acabou impulsionando o mercado”, diz o professor.

Para poder formular os produtos e criar novos processos produtivos, o curso de engenharia de alimentos tem dois anos com disciplinas básicas de matemática, física, química e biologia. Só depois é que começam as matérias chamadas de profissionalizantes, como química de alimentos ou análise sensorial, que é o estudo das características do produto e as reações que provocam no consumidor.

“É preciso ter facilidade para química e biologia, porque o profissional vai trabalhar com toda a parte de transformação dos alimentos”, afirma Prado. Devido à complexidade, a graduação, em geral, não pode ser concluída em menos do que cinco anos. Além disso, é necessário fazer estágios para conseguir o diploma.


Na hora de escolher a faculdade, o estudante deve observar se a instituição tem bons laboratórios e um currículo prático, além do corpo docente qualificado. Na Universidade Federal de Viçosa (UFV), que conseguiu uma das melhores notas no Exame Nacional de Desempenho (Enade) de 2005, há uma indústria de beneficiamento do leite da região.

“A universidade até tem uma marca: os laticínios Viçosa. E essa usina-piloto, serve de laboratório para aulas práticas”, afirma o coordenador do curso da UFV, Paulo Henrique Alves da Silva.

Nutrição ou engenharia de alimentos?

De acordo com os especialistas, quem tem afinidade com a alimentação pode ficar em dúvida entre optar por nutrição ou engenharia de alimentos na hora do vestibular. Mas as carreiras são bem diferentes. O engenheiro até pode cursar algumas disciplinas de nutrição na faculdade, porém sua formação leva em conta tecnologias, máquinas, logística. Já a nutrição está mais preocupada com as reações do alimento com o organismo.

O curso de engenharia química tem alguma afinidade com o de alimentos. Só que, na primeira engenharia, o estudante recebe mais conceitos técnicos sobre áreas de materiais como petróleo ou tecidos. E na área de alimentos há um enfoque para os processos biológicos.

Fonte: G1

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