Essa aceleração cósmica sugere a existência de uma nova componente de energia que permearia o Universo, com propriedades físicas exóticas.
Ou então que a gravitação de Einstein deve ser modificada em grandes escalas.
Energia escura e misteriosa
Como a Relatividade Geral - em que Albert Einstein trata da gravitação - é considerada uma das melhores teorias de toda a ciência, astrofísicos e cosmólogos têm trabalhado com a hipótese da energia escura.
Segundo a teoria, a energia escura representaria próximo de 75% do universo atual, enquanto outros 20% seriam matéria escura e radiação, e apenas 5% a matéria bariônica que conseguimos ver - mas mesmo aí a contabilidade não fecha, e ainda há uma boa porção da matéria normal que ainda não foi encontrada.
A natureza da energia escura, contudo, ainda é um mistério tão grande que ela foi considerada a primeira das "25 Grandes Perguntas" que a revista Science listou, em 2005, para serem respondidas nos próximos 25 anos.
Física do universo em aceleração
Para descobrir mais sobre a energia escura, um grupo de cientistas espanhóis e brasileiros está desenvolvendo o projeto PAU (Physics of the Accelerating Universe).
Também conhecido como J-PAS (Javalambre PAU Astrophysical Survey), ele terá um telescópio de 2,5m de diâmetro construído exclusivamente para o projeto pela província de Aragon, na Espanha, ao custo de 14 milhões de euros.
Instalado no Pico de Buitre, Sierra de Javalambre, em Teruel, a 1.957 metros de altitude e em uma das regiões mais escuras da Europa, o telescópio será equipado com uma câmera com 14 CCDs de 10,5 mil pixels cada, o que se traduzirá em imagens de 1,5 Gb.
Com custo estimado em 3 milhões de euros, a câmera será em sua maior parte concebida e gerenciada no Brasil, o que significa que o investimento terá um retorno imediato em termos de inovação e tecnologia que poderá ser explorado pela indústria nacional.
Com observações previstas para começar em 2012, o PAU terá quatro anos de duração, com resultados preliminares em 2014. Com foco na energia escura, ele fará um levantamento de oito mil graus quadrados no céu, o que significa que mais de 100 milhões de galáxias poderão ser observadas, beneficiando todas as áreas da astronomia.
PAU-Brasil
"Mesmo o grupo do Observatório Nacional especializado em asteroides ficou animado, apesar de o projeto ter motivação cosmológica e extragalática. Até porque nosso levantamento será em 42 cores, contra as quatro ou cinco que costumam ser utilizadas para este modelo de projeto. Acredita-se que asteroides com a mesma cor tenham-se formado na mesma região da galáxia", afirma Renato Dupke, astrofísico do Observatório Nacional (ON/MCT), no Rio de Janeiro, e coordenador do PAU-Brasil. "O PAU é o projeto mais competitivo, em termos de quantidade de ciência por dinheiro investido, para estudos cosmológicos, nesta década."
Por ser um dos países participantes, o Brasil ainda terá prioridade no uso dos dados conforme eles forem sendo liberados. E apesar de o país não ter que arcar com custos de manutenção do telescópio, pesquisadores brasileiros ainda terão direito a utilizá-lo por mais três anos após o término do projeto.
Sons do Big Bang
No que diz respeito à energia escura, como ela é considerada uma das variáveis da evolução do universo, o PAU vai observar os primeiros instantes do Big Bang em busca das oscilações acústicas bariônicas (BAOs: Baryon Acoustic Oscillations), que são como registros sonoros das primeiras formações de matéria.
Medições de BAOs são hoje o método mais promissor de investigação da energia escura e o PAU se propõe a fazer medições com um nível de precisão que ainda não foi obtido.
Fonte: MCT
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