Resíduos vegetais, principalmente gerados pela poda de árvores e pela manutenção de jardins, representam uma porção importante do lixo gerado em todas as cidades.
Mas, até hoje, não existem programas de destinação adequada desse material - menos ainda de sua reciclagem ou reaproveitamento.
Foi esta constatação que ensejou a pesquisa da engenheira florestal Ana Maria de Meira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. Em seu trabalho, Ana Maria propõe um modelo de gestão para os resíduos da arborização urbana - como madeira (galhos e troncos), folhas, flores e frutos.
Árvores urbanas
A pesquisa foi feita em Piracicaba, no interior de São Paulo, uma cidade de porte médio, que gera em média 180 toneladas desse material por mês, sendo 69% composto por ramos e galhos finos de até 8 centímetros (cm) de diâmetro.
Ana Maria acompanhou as equipes de poda da cidade durante quinze meses, monitorando a extração e recolhimento das dez espécies de maior frequência na arborização: espirradeira, ficus-benjamim, ipê, canelinha, oiti, chapéu de sol, quaresmeira, resedá, falso-chorão e sibipiruna.
"A primeira intenção foi saber a quantidade de material gerado, o que possibilita planejar seu destino. Além disso, mapeamos quais os motivos que geram a poda. Em sua maioria, elas ocorrem por falta de critérios na escolha das espécies, resultando em conflitos com os outros usos do solo urbano," relata a pesquisadora.
O estudo buscou, ainda, caracterizar os resíduos vegetais e avaliar a viabilidade de aproveitamento do material na produção de produtos sólidos de madeira (madeira serrada, móveis, pequenos objetos de madeira), como fonte de energia (lenha e carvão) e na compostagem com outros resíduos disponíveis nas cidades, como restos dos varejões e feiras livres.
Educação para o verde
O plano de gestão proposto por Ana Maria segue três linhas de ação: a redução da geração, a valorização dos resíduos e a disposição final, em casos emergenciais.
A redução da geração pode ser obtida por meio da definição de critérios de poda e remoção mais adequados, da capacitação da mão de obra que executa essas atividades, da escolha das espécies, das condições do plantio e condução do crescimento, além da educação da população para que entenda a importância da arborização urbana.
"Não há treinamento da mão de obra responsável pelo serviço e a própria relação dos moradores com as árvores não tem um vínculo tão forte que pudesse impedir a derrubada de muitas delas", explica a pesquisadora.
Valorização do lixo
Em relação à valorização ou aproveitamento, Ana Maria destaca que é preciso conhecer o material para a tomada de decisão mais adequada.
"Fizemos a caracterização, quantificando o volume por classe de diâmetro; determinando a densidade, o teor de umidade, a cor, a quantidade de carbono fixo, cinzas etc. Essas variáveis indicarão se os resíduos poderão ser desdobrados em tábuas ou transformados em pequenos objetos de madeira, móveis, equipamentos urbanos, esquadrias para serem usadas em habitação popular; o seu potencial energético para uso como lenha, carvão, briquete ou pellets; a possibilidade de produzir composto orgânico, entre outras formas de valorização. Com isso é possível separar o material para diferentes destinações, obtendo o máximo de retorno econômico, social e ambiental", explica a engenheira florestal.
Descarte adequado do lixo
A terceira linha de ação do plano de gestão é a disposição final.
O plano propõe redução na geração de resíduos ou valorização desse material mas, conforme relata a professora Adriana Maria Nolasco, em algumas situações isso não é viável: "Imaginemos um caso de uma prefeitura de pequeno porte que não possui recursos financeiros ou mão de obra qualificada. Mesmo assim ela terá de dar um destino final ao resíduo".
A pesquisa propõe o descarte de forma adequada, em local apropriado, com segurança, sem risco de incêndio, que não se despeje simplesmente em terrenos baldios e sim em aterros ou áreas próprias controladas. "Dadas as características desse resíduo, a disposição não é a forma de manejo mais indicada, mas diante da necessidade, que se faça da forma menos impactante possível", comenta a professora.
Outra forma de destino ao material excedente é a parceria entre os municípios. "As prefeituras podem, inclusive, encontrar formas de arranjo e o material de uma determinada localidade pode, por exemplo, ser transferido para um outro município que já aproveita esse resíduo", ressalta Ana Maria.
Brinquedos nascidos do lixo
Na mesma linha de pesquisa, duas alunas do curso de Engenharia Florestal da Esalq, Renata Carolina Gatti e Juliana Paschoalini Arthuso, desenvolveram brinquedos e pequenos objetos usando esses resíduos.
As peças fazem parte de um portfólio de brinquedos que servirá de modelo para produção em programas municipais. Em 2010, o projeto continua com um grupo de estagiários desenvolvendo outros produtos.
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