sábado, 31 de julho de 2010

Cabos pára-raios tornam energia elétrica mais barata

As linhas de transmissão, utilizadas para transportar grandes quantidades de energia elétrica em longas distâncias, utilizam cabos pára-raios para protegê-las de descargas atmosféricas (raios), evitando com isso seu desligamento.

Mas esses cabos podem cumprir outra função, atendendo a demanda de eletricidade de pequenas comunidades situadas nas proximidades desses chamados "linhões".

Esta é a conclusão do trabalho de pesquisa do engenheiro eletricista José Ezequiel Ramos, no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, que mostrou que os cabos de proteção também podem ser utilizados para transportar energia elétrica, por meio da tecnologia de Cabos Pára-Raios Energizados (PRE).

Média tensão

Em seu estudo, José Ezequiel mostrou que a Tecnologia PRE tem um desempenho econômico e operacional melhor, se comparado às tecnologias convencionais, para abastecer as pequenas comunidades próximas às linhas de transmissão.

A tecnologia PRE, desenvolvida na Itália, é baseada na utilização dos cabos pára-raios em linhas de transmissão de alta e extra alta tensão, sendo esses cabos isolados e energizados para viabilizar a transmissão de energia elétrica em média tensão.

"Nesses níveis de tensão é possível o atendimento às pequenas comunidades por intermédio de subestações, onde a tensão elétrica é reduzida para o nível de consumo doméstico ou de pequenas indústrias", explica José Ezequiel.

O engenheiro participou da implantação da tecnologia em Rondônia, acompanhando posteriormente sua operação e manutenção.

Confiabilidade da rede

A pesquisa investigou, entre outras questões, como as descargas atmosféricas (raios) afetam a linha PRE e linhas de transmissão como um todo, o desempenho operacional resultante de mais de 180 meses de operação do PRE em Rondônia e sua viabilidade econômica em relação aos demais sistemas.

"Estudamos também se as descargas atmosféricas são as principais causadoras das interrupções no Sistema PRE, e não as falhas em equipamentos ou outras limitações operacionais", completa o engenheiro.

Foram utilizados como fonte de dados os registros operacionais do PRE em duas cidades de Rondônia: Jaru, entre 1996 a 2000, e Itapuã, entre 1997 e 2007. Os 180 meses de experiência operacional com as duas instalações PRE permitiram comparar o número de interrupções verificadas no período com o número de interrupções estimadas na teoria.

Também foram feitas também medições de resistividade do solo e resistência de terra, e utilização de dados disponíveis da região relacionados à quantidade de chuvas, temperatura, umidade relativa, pressão atmosférica, e registros de descargas atmosféricas.

Menos custos e mais benefícios

Uma das primeiras conclusões do trabalho foi a constatação de que o Sistema PRE não diminui o desempenho da linha de transmissão. Ao contrário, o desempenho da linha é melhorado.

Os resultados mostraram também que o Sistema PRE é bastante sensível às descargas atmosféricas, de forma que, mesmo para baixas correntes de descarga, acontece a saída de operação do sistema. "Apesar disso, devido à característica sazonal das descargas atmosféricas, o desempenho operacional anual do PRE é igual ou melhor que os sistemas utilizados nas pequenas localidades da região," explica.

No aspecto econômico, José Ezequiel destaca que, somadas as duas cidades, a Tecnologia PRE evitou a queima de mais de 80 milhões de litros de óleo diesel para produção de energia, resultando em uma economia superior a R$ 180 milhões. "Comparando esse valor com o custo do investimento para implantar o PRE, eles foram pagos mais de 60 vezes. E comparando somente os cabos pára-raios isolados e energizados, seu custo é quase dez vezes menor que os cabos convencionais", completa.

Alternativa tecnológica

O estudo favorece futuros projetos de implantação ou expansão da Tecnologia PRE. Dessa forma, empresas públicas e privadas têm uma alternativa a mais em relação às convencionais com finalidades semelhantes: atender pequenas comunidades isoladas, próximas aos corredores das grandes linhas de transmissão.

José Ezequiel espera que essa alternativa tecnológica possa ser utilizada nas políticas públicas de universalização da energia elétrica.

"O grande desafio enfrentado pelas novas tecnologias é a falta de conhecimento sobre as mesmas, o que pode levar à sua rejeição. Portanto, a pesquisa tem o mérito de contribuir com a oferta de maior conhecimento, permitindo sua inclusão no rol das demais alternativas analisadas para atendimento a pequenas comunidades", finaliza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Utilizar-se de um cabo Pára-Raios não vejo como boa idéia...enquanto não houver descarga atmosférica está tudo bem, mas quando houver, coitado dos consumidores e seus aparelhos eletro eletronicos, sem contar o fato de que é necessário investir nos isoladores, considerar quedas de tensão, etc,
...enfim, melhor não inventar moda, basta instalar uma subestação tradicional para a comunidade remota e pronto! é mais seguro!...se a idéia do cara fosse realmente boa, já estaria em uso à mais de 50 anos atrás.