Este é o Visorama, um sistema de realidade virtual criado pelo professor André Parente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que está prestes a chegar ao mercado.
Imersão audiovisual
O equipamento, concebido por Parente ao longo de uma parceria de uma década com o professor Luiz Velho, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), propõe o encontro do cinema com as novas mídias digitais e com a arte contemporânea, proporcionando ao espectador uma imersão na obra audiovisual.
A proposta é criar uma experiência visual alternativa ao cinema convencional, em que as imagens são previamente editadas e a narrativa já vem estabelecida por um autor.
No Visorama é o espectador quem se apropria das ferramentas de edição e elabora a narrativa. Em Figuras na paisagem, um roteiro criado para demonstrar a tecnologia, o visitante vai construindo a narrativa do filme ao vivo, ao visualizar cenas panorâmicas, em 360°.
Essas imagens, acompanhadas de uma narração, descrevem a presença de um leitor que se desloca entre o Real Gabinete Português de Leitura - uma biblioteca circular - e a praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Elas podem ser editadas a partir do acionamento de botões com três funções: zoom, rotações horizontal e vertical e transições de imagem.
De acordo com Parente, o Visorama rompe com as três dimensões tradicionais do cinema: a arquitetura (a sala de cinema), a tecnologia (câmera e projetor) e a narratividade (organização das relações espaçotemporais).
"O Visorama é diferente porque, com o auxílio das novas tecnologias, ele permite recriar o cinema em outros locais além das salas de cinema tradicionais, como galerias e museus, sem a rígida disposição das cadeiras em frente à tela de projeção", diz o pesquisador artista, destacando entre essas diferenças a relação de interatividade entre imagem e espectador. "Cabe ao espectador explorar as imagens de forma a encontrar um lugar para si diante do que ele vê, ouve e sente."
Visão panorâmica
O novo sistema de realidade virtual tem como base o conceito de panorama, sendo o primeiro dispositivo de imagens de comunicação de massa a proporcionar total imersão ao espectador.
O panorama é um tipo de pintura mural, construída em um espaço circular em torno de uma plataforma central, de onde os espectadores podem observar a imagem em 360°.
"O Visorama pertence a essa linhagem de dispositivos panorâmicos, patenteados no fim do século XVIII, por Robert Baker. Ele oferece a mesma experiência dos panoramas originais, mas no mundo virtual", conta André Parente, que também se inspirou na câmera para fotografar panorâmicas e no sistema de projeções fotográficas em 360º criados pelos pais do cinema, os irmãos Lumière, em 1898.
Outra característica inovadora do produto é a capacidade de multi-resolução, que permite ao observador visualizar desde um plano panorâmico até uma pequena folha no chão da cena, sem perder em qualidade de imagem. "O sistema está preparado para fornecer detalhes em tempo real de imagens panorâmicas em altíssima resolução, na ordem dos gigapixels."
Tecnologia 100% brasileira
Para conceber o Visorama, foi necessário um longo estudo multidisciplinar, que reuniu fundamentos da matemática, da computação gráfica e da comunicação. O coordenador do laboratório Visgraf (Vision and Graphics Laboratory) do Impa, Luiz Velho, ficou responsável pelo desenvolvimento tecnológico do produto.
"Ficamos encarregados pela construção do dispositivo físico do aparelho e do sistema de computação criado especialmente para o Visorama", diz Velho. Ele trabalhou com conceitos do chamado Image-Based Rendering - entre eles síntese, análise e processamento da imagem, além da modelagem geométrica.
Velho e Parente desenvolveram, inicialmente, dois protótipos do Visorama, que estão no Núcleo de Imagem (N-Imagem) da Eco e no Visgraf. Segundo Velho, a tecnologia de panorama virtual de multi-resolução é um dos diferenciais do Visorama.
"O binóculo é uma interface mais natural para o observador do que um mouse ou uma tela de computador, e também permite a ele uma imersão total no ambiente virtual", avalia. "O maior desafio que tivemos na construção dos protótipos foi sincronizar os movimentos do binóculo com a visualização da imagem em tempo real e alcançar um alto nível de detalhamento da cena com o zoom sem perder a qualidade."
Do laboratório ao mercado
Com o objetivo de transferir a tecnologia do Visorama do ambiente acadêmico para a sociedade, a dupla de pesquisadores entrou em contato com a empresa Digitok, que iniciou suas atividades na incubadora de empresas Gênesis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e se especializou em desenvolvimento e integração de software e hardware para mídias interativas.
"A ideia era aprimorar os protótipos desenvolvidos pelos pesquisadores e criar um produto comercial", diz Ruben Zonenschein, diretor da Digitok, que trabalha no projeto desde 2006.
Para inserir o produto no mercado nacional, o hardware e o software do Visorama foram adaptados. O design tornou-se mais moderno e com mobilidade total. "O produto ganhou uma interface intuitiva. Isso quer dizer que a interação se dá através de movimentos naturais do usuário, como se ele estivesse utilizando um binóculo com tecnologia Oled (Organic Light-Emitting Diode)", explica Ruben.
O equipamento exibido na videoinstalação Figuras na paisagem é o primeiro produzido em escala comercial pela Digitok. Além de ser uma ferramenta que pode ser utilizada em instalações de arte contemporânea - ampliando as fronteiras do entretenimento e anunciando o que pode vir a ser o cinema do futuro -, o Visorama pode ter aplicações em outros segmentos, como no turismo histórico (intercalando o antes e o depois das paisagens e aproximando o observador minuciosamente dos detalhes dos pontos turísticos), em museus e centros culturais (possibilitando visitas virtuais) e em feiras de eventos (ilustrando produtos). "É uma plataforma multimídia que pode atender a diversos mercados", conclui Luiz Velho.
Fonte: Débora Motta - Faperj
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