quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CONSPIRAÇÃO: Atlântida

Atlântida ou Atlântis era um poderoso reino imaginado pelo filósofo grego Platão (428-347 a.C.), que em dois dos seus diálogos (Timeu e Crítias, escritos por volta de 360 a.C.), o situou em uma imensa ilha com o mesmo nome, no meio do Oceano Atlântico, que teria afundado nove mil anos antes da época de Sólon, seu antepassado.

Mais tarde, o mito filosófico que cita a Atlântida foi levado ao pé da letra e serviu como cenário de inúmeras elucubrações sobre a pré-história da humanidade, doutrinas esotéricas e supostas visões ocultistas, gerando uma vasta mitologia à sua volta.

Platão escreveu que antepassado Sólon, em uma viagem ao Egito, teria ouvido de um sacerdote de Sais, no delta do Nilo (então capital do Egito), a história de Atlântida e de como fora derrotada pela Atenas de seu tempo. Entretanto, o contexto dessa narrativa na obra filosófica de Platão indica claramente que se trata de mais um de seus muitos mitos filosóficos, uma metáfora para expressar um conceito, neste caso ético e político.

Os fatos narrados teriam acontecido nove mil anos antes da viagem de Sólon, durante o reinado do faraó Amásis - uma referência um tanto inconsistente, pois Sólon provavelmente teria feito essa viagem entre 593 e 583 a.C., enquanto Amásis reinou de 570 a.C. a 526 a.C.

Platão descreve Atlântida como uma superpotência agressiva e conquistadora nadando em luxo - uma versão muito ampliada e exagerada do imperialismo ateniense anterior à guerra do Peloponeso - que, apesar disso é derrotada ao tentar expandir demais seus domínios, como se deu com Atenas ao tentar conquistar a Sicília. E quem a derrota é uma Atenas mítica de há milhares de anos, uma cidade pequena, sóbria e bem disciplinada, à imagem e semelhança da polis ideal que ele descreveu em A República (que, em vários aspectos, parece uma versão aperfeiçoada da Esparta que derrotou a Atenas real). O mito de Atlântida contrapõe um ideal de Atenas contra outro, saindo vitorioso o ideal platônico.

A narrativa de Platão foi escrita poucos anos depois de 373 a.C., quando Helike, uma importante cidade-estado do norte do Peloponeso, líder da liga Acaia, de fato afundou da noite para o dia em conseqüência de um terremoto, matando todos os seus habitantes. A notícia, que certamente teve grande impacto em Atenas, provavelmente inspirou Platão e tornou o mito verossímil para seus contemporâneos.

Tudo indica que a concepção do cenário por Platão e a história sobre Sólon foram conscientemente fictícios, mas o filósofo pode ter-se inspirado em lugares e tradições reais, adaptando-as às necessidades de sua ficção filosófica. A descrição da cidade de Atlântida lembra, em muitos aspectos, a topografia real de Cartago, a maior potência naval do Mediterrâneo em sua época. O físico alemão Rainer W. Kühne tem defendido que Platão usou três elementos históricos em seu conto: 1) uma tradição grega sobre a Atenas micênica, em sua descrição da Atenas pré-histórica, 2) os registros egípcios sobre as guerras com os Povos do Mar, para a descrição da guerra dos atlantes; e 3) uma tradição de Siracusa sobre Tartessos para a descrição da cidade e geografia da Atlântida, a mesma tradição que teria inspirado, quatro séculos antes, a descrição da Esquéria na Odisseia de Homero[1].

Gerações depois da morte de Platão, o mito passou a ser tomado ao pé da letra. Ainda na Antiguidade, por volta de 50 a.C., o historiador Diodoro da Sicília incluiu a Atlântida em sua interpretação evemerista dos mitos gregos e egípcios, tomando-a como uma nação real que teria existido no passado - aparentemente não em uma ilha do Atlântico, mas em torno da região do Atlas, na África do Norte.

Na Idade Moderna, quando a Bíblia começou a perder sua autoridade, mas a arqueologia científica e a ciência da pré-história ainda não existiam, o mito da Atlântida atraiu o interesse de pensadores em busca de uma versão alternativa das origens da humanidade e da civilização, alguns deles procurando demonstrar que sua própria pátria havia sido a Atlântida e o berço da cultura. Nesse período, muitos identificavam as Américas recém-descobertas com a Atlântida que, nessa concepção, não teria realmente afundado, mas apenas abalada por uma catástrofe após a qual perdeu o contato com o Velho Mundo.

A partir do início do século XIX, com o desenvolvimento da arqueologia e de métodos históricos mais rigorosos, que não confirmaram qualquer sinal da Atlântida ou de sua lembrança antes de Platão, o mito perdeu rapidamente sua respeitabilidade como hipótese histórica séria. Mas tornou-se cada vez mais importante para o ocultismo e o esoterismo, que prosseguiam na construção de um passado mítico alternativo à tradicional História Sagrada centrada em Canaã - e, em muitos casos, também na tentativa de identificar outro “povo eleito”, em geral o seu próprio, o europeu branco e "ariano".

Atlântida tornou-se, de um lado, origem mítica de supostos conhecimentos secretos e crenças esotéricas e, de outro, parte de uma nova mitologia que procurava justificar a hierarquia das "raças" e o domínio global das nações européias, ou mesmo de uma determinada nação. Ao longo do século XIX e início do século XX a teosofia de Helena Blavatsky e seus seguidores e dissidentes, bem supostos médiuns, clarividentes e portadores ou descobridores de conhecimentos secretos de diferentes escolas, fizeram da Atlântida retratos minuciosos, mas freqüentemente contraditórios, embora na maioria das vezes retivessem a idéia de uma ilha-continente no meio do Atlântico.

A partir dos anos 60, o mapeamento do fundo dos oceanos e a descoberta da deriva continental e da tectônica de placas tornaram geologicamente implausível a idéia de afundamento e soerguimento de continentes que embasava as teses teosóficas. Desde então, diferentes escritores procuraram outras maneiras de justificar a crença na existência real de Atlântida, localizando-a em plataformas continentais inundadas ao fim da Idade do Gelo (como nas vizinhanças da atual Indonésia), nos Andes ou mesmo na Antártida.

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