"Nosso trabalho aponta que mecanismos relacionados com o controle da respiração podem contribuir para o desenvolvimento da hipertensão arterial", disse Daniel Breseghello Zoccal, autor da pesquisa. O trabalho de doutorado foi orientado pelo professor Benedito Honório Machado.
Falta de absorção de oxigênio
Zoccal analisou as alterações cardiovasculares e respiratórias em ratos submetidos à hipóxia crônica intermitente durante dez dias, condição que consiste em reduções transitórias na fração de oxigênio inspirado, intercalados por períodos de respiração normal.
"Utilizando um sistema automático de válvulas, o oxigênio do ar inspirado foi reduzido para níveis próximos a 6% por meio da injeção de nitrogênio dentro de câmaras especializadas. Após 30 segundos nesse nível, o oxigênio foi injetado dentro das câmaras para restabelecer os níveis de oxigênio do ar inspirado próximos ao valor normal, que é de 21%", explicou.
Os resultados indicaram que ratos submetidos a essa situação apresentaram um aumento da pressão arterial, possivelmente decorrente de uma maior interação entre a atividade respiratória e o sistema cardiovascular após a hipóxia crônica intermitente.
Apneia do sono
"A condição de hipóxia crônica intermitente pode ser observada em algumas condições fisiopatológicas, como na apneia obstrutiva do sono. Contudo, é preciso ressaltar que não simulamos o que ocorre na clínica", ressaltou.
Segundo o farmacêutico, nos ratos foi mimetizada somente a situação da hipóxia intermitente. "Nos pacientes com apneia do sono, além da hipóxia intermitente, são observadas outras condições que também podem contribuir para o aparecimento de disfunções cardiovasculares e respiratórias, como alterações metabólicas, obesidade e estresse", disse.
Hipóxia crônica
Uma das principais conclusões do estudo, segundo Zoccal, é que a hipóxia crônica intermitente promove alterações na atividade respiratória, as quais, por sua vez, influenciam os níveis da atividade simpática, um dos principais fatores que determinam os níveis de pressão arterial por meio do controle da resistência vascular.
"Notamos que um dos fatores que contribuem para o aumento dessa atividade simpática são alterações nos mecanismos neurais que controlam a respiração. Existe ali uma interação muito forte no modelo que estudamos", disse.
De acordo com o pesquisador, um dos fatores limitantes do estudo foi encontrar um modelo experimental adequado. "Muitos estudos descritos na literatura trabalharam com o animal anestesiado, mas sabemos que a anestesia interfere nos resultados. Dessa forma, trabalhamos com o animal não anestesiado e com preparações in situ, modelos livres dos efeitos depressores da anestesia", disse.
Resposta ao tratamento
Apesar disso, Zoccal ressalta que os resultados não devem ser encarados apenas como restritos ao modelo experimental, uma vez que a hipertensão é um problema multifatorial. O que chama a atenção, segundo ele, é que existem casos nos quais os pacientes não respondem a tratamentos convencionais.
"Estudos realizados com outros modelos animais de hipertensão arterial apresentam resultados semelhantes aos nossos. Dessa forma, acreditamos que essa interação - respiração e função cardiovascular - possa também contribuir para casos de hipertensão que não respondem aos tratamentos existentes", disse.
Prêmios internacionais
A pesquisa de Daniel Zoccal recebeu dois prêmios internacionais.
Neste mês, ele viajará para os Estados Unidos para receber o The Michael J. Brody Young Investigator Award, concedido pela American Physiological Society e pela Merck, em reconhecimento a jovens pesquisadores.
Em julho, ele seguirá para Manchester, na Inglaterra, onde será agraciado com outro prêmio, concedido pela revista Experimental Physiology, editada pela The Physiological Society. Um artigo publicado na revista em 2009 junto com outros pesquisadores foi um dos que mais geraram downloads no ano.
Fonte: Diário da Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário