quinta-feira, 15 de abril de 2010

Unicamp desenvolve técnica que produz lentes de óculos em 10 minutos

Um novo processo industrial desenvolvido na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) gasta menos de 10 minutos para fabricar lentes para óculos.

Fabricação de lentes

O processo baseia-se em uma resina capaz de baratear o custo e reduzir o tempo de produção de lentes oftálmicas, com excelentes propriedades mecânicas, térmicas e ópticas.

O método consiste na injeção de uma resina líquida, cuja viscosidade é muito parecida com a do mel, em um molde transparente que, logo a seguir, é exposto a uma irradiação com raios ultravioleta.

Essa irradiação induz a polimerização, um processo por meio do qual a resina torna-se um sólido de alta transparência.

Tecnologia social

A pesquisa, realizada por Marco Henrique Zangiacomi e Edison Bittencourt, promete ter grande impacto social, principalmente se essa produção de lentes oftálmicas, por meio de unidades móveis, conseguir atingir as cidades mais distantes e, consequentemente, as populações mais carentes.

O que poderia ser o principal problema para a produção das lentes em unidades móveis - o custo da resina importada - foi solucionado com a aquisição de compostos no mercado nacional a um custo significativamente mais baixo - cerca de cinco vezes menos. A resina curada com ultravioleta, observa o pesquisador, é a única que pode ser usada nesse tipo de unidade.

"A ideia é que essa unidade móvel seja constituída de um pequeno consultório onde o paciente seja atendido por um oftalmologista. De lá, ele já sai com a receita para a área de produção, de onde seguirá para sua casa com os óculos prontos", afirmou Bittencourt.

Um estudo inicial mostrou que o número de deficientes visuais sem acesso aos óculos é estimado em 3,5 milhões no Brasil.

Inclusão social

Bittencourt explicou que o tipo de cura utilizado dá rapidez ao processo, com uma combinação de know-how na formulação e na cinética da polimerização.

No entanto, ressalta o pesquisador, o equipamento de cura utilizado no laboratório não foi o mais sofisticado possível. "Se houvesse uma sofisticação do equipamento, poderíamos tranquilamente estar em um nível de produção de larga escala ou em grandes esquemas móveis como, por exemplo, na Amazônia, com barco e médico a bordo", esclareceu.

O pesquisador pensa pelo viés da inclusão social, especialmente no que diz respeito ao sistema de proteção da saúde da sociedade e principalmente nos segmentos de menor poder aquisitivo. Por isso, ressalta o alcance social do projeto.

Fábrica móvel de lentes

A respeito da estimativa de tempo para produzir efetivamente as lentes, Bittencourt aponta que a maior dificuldade está em encontrar um parceiro que construa a unidade móvel. Qualquer parceria nessa área, em sua opinião, tem que ser extremamente rigorosa e séria, por tratar-se de saúde pública.

Quanto ao trabalho de implantação, ele estima que um prazo razoável seria entre 24 a 36 meses para uma produção em escala industrial moderada.

E um ponto fundamental está na questão do financiamento da lente para o consumidor de baixa renda. "Creio que esse financiamento deveria ser feito pelo poder público em todos os níveis", salientou.

Cura de resinas com ultravioleta

O interesse do pesquisador pelos raios ultravioleta surgiu na década de 1970, quando ainda trabalhava nos Estados Unidos. Ao regressar para o Brasil, teve que interromper momentaneamente os trabalhos na área porque aqui ainda não havia equipamentos no país.

Em 1979, foi para a Unicamp, atuando no projeto de fibras ópticas desenvolvido pelo governo federal. Como a cura com ultravioleta de resinas é o único processo que atende aos requisitos de produção da fibra óptica, ou seja, transforma-se em uma camada protetora da fibra, além de permitir altas velocidades, Bittencourt tornou-se o responsável pela unidade de puxamento, que estica o silício para gerar a fibra.

Nesse período, ele deu início ao desenvolvimento de resinas para o recobrimento de fibras ópticas. Sua equipe produziu três tipos de resinas que vieram a ser usadas na produção de fibra óptica, com propriedades mecânicas diferenciadas.

Somente anos depois começou o trabalho de cura de resinas para fabricação de lentes para óculos. Bittencourt lembra que, até há cerca de 15 anos, a maioria das lentes era feita de vidro. Atualmente, tudo é polímero. "Posso afirmar que fomos os desenvolvedores dessa resina em nível nacional, ainda que não seja a primeira vez que se faz isso no mundo", alegou.

Nenhum comentário: