O composto poderá, quando aprovado, ser usado clinicamente para o tratamento de pacientes com infecções bacterianas altamente resistentes.
"[Estes resultados] têm um significado clínico verdadeiro e traçam um caminho a ser seguido para o desenvolvimento de antibióticos de última geração para o tratamento das mais graves infecções bacterianas resistentes," disse o Dr. Dale L. Boger, coordenador do novo estudo.
O novo composto sintetizado é um análogo do bem-conhecido antibiótico vancomicina.
O novo análogo foi preparado "do zero", em uma síntese completa, uma realização muito importante do ponto de vista da chamada química sintética.
Vancomicina
A vancomicina é um antibiótico de último recurso, que é usado apenas depois que o tratamento com outros antibióticos falhou.
Clinicamente, ela é usada para tratar pacientes que são infectados com o virulento Staphylococcus aureus, resistente à meticilina (MRSA), ou indivíduos em diálise, ou ainda aqueles que são alérgicos a antibióticos beta-lactâmicos (penicilina e cefalosporinas).
A vancomicina normalmente trabalha grudando e sequestrando um composto formador de células na parede bacteriana, um peptidoglicano - uma molécula contendo carboidrato e carbono.
Apenas as bactérias Gram-positivas possuem uma parede celular, que é uma membrana na superfície externa da célula.
Um único átomo muda tudo
O antibiótico se liga tão fortemente ao peptidoglicano que as bactérias não podem mais usar o mecanismo para formar sua parede celular e, assim, morrem.
Infelizmente, as bactérias encontraram uma maneira de alterar o peptidoglicano, de tal forma que o antibiótico já não consegue mais se agarrar a ele.
As bactérias fazem isso expressando uma forma mutante do peptidoglicano no qual são alteradas as propriedades de um átomo-chave utilizado no processo de reconhecimento usado pelo antibiótico.
Isto significa simplesmente que, onde havia algo atrativo, agora há algo repulsivo. Quimicamente, as bactérias substituem uma amida (carbonila, RC=O ligada a uma amina) por um éster (carbonila, RC=O ligada a um oxigênio).
Esta mudança de um átomo muda o jogo inteiro, e torna a vancomicina ineficaz.
Até agora, pelo menos.
Os antibióticos contra-atacam
Como ímãs, as interações moleculares podem ser atrativas (de cargas opostas) ou repulsivas (com cargas idênticas).
O que os químicos fizeram foi tornar atrativa essa interação-chave que havia sido tornada repulsiva pela bactéria.
Agora, o novo análogo da vancomicina pode agarrar o peptidoglicano mutante e, novamente, impedir que as bactérias construam sua parede celular, matando as bactérias resistentes.
E o que é mais o notável é que esse processo de reengenharia do antibiótico mantém sua capacidade de se ligar ao peptidoglicano original, sem mutação.
Fonte: Redação do Diário da Saúde
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