terça-feira, 23 de agosto de 2011

Maldição do faraó pode ter matado o próprio faraó

O corpo de delito é um pequeno frasco encontrado entre os pertences da Faraó Hatshepsut, que viveu por volta de 1450 A.C.. O frasco está em exposição no Museu Egípcio, da Universidade de Bonn, na Alemanha.

Durante três milênios e meio, o frasco pode ter mantido um segredo mortal.

Isto é o que descobriram o chefe da coleção, Michael Höveler-Müller, e o Dr. Helmut Wiedenfeld, farmacologista da Universidade de Bonn.

Depois de dois anos de pesquisas, agora está claro que o frasco não continha perfume.

Em vez disso, ele trazia uma espécie de loção para tratar a pele ou até mesmo um medicamento para uma rainha que sofria de eczema.

O que mais chamou a atenção, contudo, é que os farmacologistas encontraram uma substância fortemente cancerígena dentro do frasco ainda lacrado.

Revelando um segredo de 3,5 mil anos

Quando Michael Höveler-Müller tornou-se o curador do Museu Egípcio em 2009, ocorreu-lhe a ideia de examinar o interior do frasco que, de acordo com uma inscrição, pertenceu à faraó Hatshepsut.

O pescoço do frasco estava bloqueado com o que até então havia sido considerado "sujeira", mas Höveler-Müller suspeitou que poderia ser a tampa de barro original.

Então, possivelmente, uma parte do conteúdo original ainda poderia estar lá dentro. O Dr. Helmut Wiedenfeld foi o parceiro certo, para que os pesquisadores pudessem chegar ao fundo desta questão - e do frasco.

Na clínica de radiologia da Universidade de Bonn, o frasco foi submetido a uma tomografia por emissão de pósitrons.

Lá, a suspeita do egiptólogo foi confirmada - não apenas o lacre estava intacto, como também o frasco continua resíduos de um líquido que secou.

Usando um endoscópio, o Dr. Friedrich Bootz, que entrou para o time de caçadores do segredo do faraó, recolheu amostras dos resíduos no fundo do frasco, retirando-as para serem analisadas.

Hatshepsut foi morta por seu medicamento?

Isto permitiu que o Dr. Wiedenfeld e sua equipe analisassem as antigas substâncias para descobrir seus ingredientes.

E ficou óbvio muito rapidamente que o material encontrado não era perfume seco.

A mistura continha grandes quantidades de óleo de palma e óleo de noz-moscada.

"Eu não acho que ninguém iria colocar tanta graxa no rosto," afirma o Dr. Wiedenfeld. "Isso faria o rosto parecer tão gorduroso quanto um prato de costelas assadas."

Dois componentes adicionais deram ao farmacologista as informações sobre o propósito real da mistura: "Encontramos uma grande quantidade de ácidos graxos insaturados, que proporcionam alívio para as pessoas com doenças da pele."

E foi aí que o egiptólogo adicionou outro pedaço do quebra-cabeça: "É fato sabido que houve casos de doença de pele na família de Hatshepsut." Doenças inflamatórias da pele, como a psoríase, têm um forte componente genético.

Substância cancerígena

E o terceiro grupo de ingredientes também aponta para o fato de que essa substância não era voltada para oferecer uma fragrância agradável, mas, em vez disso, para combater uma forte coceira.

Os farmacologistas encontraram no frasco um monte de hidrocarbonetos derivados do creosoto.

Até hoje, cremes contendo creosoto são usados para tratar doenças crônicas da pele.

Devido aos efeitos potencialmente cancerígenos de alguns de seus ingredientes, o creosoto foi completamente banido dos cosméticos, e medicamentos contendo creosoto agora só são vendidos sob receita médica.

Em especial, os farmacologistas detectaram na pequena garrafa de Hatshepsut o benzo(a)pireno, um hidrocarboneto aromático perigoso, formado por vários anéis de carbono.

"O benzo(a)pireno é uma das substâncias cancerígenas mais perigosas que conhecemos," explicou Dr. Wiedenfeld. Por exemplo, o risco de contrair câncer de pulmão da fumaça de cigarro resulta essencialmente desta substância.

Será que a loção causou a morte da faraó por câncer?

Será que Hatshepsut envenenou a si mesma sem saber?

"Há muita coisa reforçando essa hipótese," responde o Dr. Wiedenfeld. "Se você imaginar que a Rainha tinha uma doença crônica da pele e que ela encontrou um alívio momentâneo com a pomada, ela pode ter-se exposto a um risco grande ao longo dos anos."

O egiptólogo também acha que isso é muito provável.

"Nós já sabíamos há muito tempo que Hatshepsut tinha câncer e talvez até mesmo morreu por isso", disse Michael Höveler-Müller. "Podemos agora ter descoberto a causa real."

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