Foram divulgados agora os resultados preliminares - o estudo começou em 2009 e só vai terminar em 2013.
"A evidência, embora ainda esteja se acumulando, é forte o bastante para endossar uma conclusão: há risco," escreveu o Dr. Jonathan Samet, coordenador do grupo, no relatório preliminar do estudo.
"Desta forma, nós precisamos manter um acompanhamento muito atencioso da ligação entre os telefones celulares e o risco de câncer," completou ele.
Evidências científicas
O maior destaque do novo estudo é uma abordagem completamente diferente dos trabalhos anteriores.
Os estudos anteriores são de caráter epidemiológico, ou seja, são usadas correlações estatísticas para estimar o risco dos celulares, por exemplo, comparando a taxa de ocorrência de tumores cerebrais malignos em amostras da população com o número total de horas que essas pessoas passaram falando ao celular.
O que os pesquisadores fizeram agora foi construir um modelo eletromagnético do corpo humano com uma resolução sem precedentes. O modelo, batizado de AustinMan, foi desenvolvido pelo Dr. Ali Yilmaz e seus colegas da Universidade do Texas, na cidade de Austin.
Com esse modelo, é possível estimar os efeitos da radiação nas diversas potências emitidas pelos mais diversos equipamentos do tipo wireless sobre o corpo humano.
Com isto, são usadas as melhores evidências científicas do funcionamento do corpo humano para balizar conclusões seguras para a população, e não levantamentos estatísticos, com todos os problemas derivados da coleta precisa de dados ou da forma de sua interpretação, afirmam os cientistas.
Diferença entre correlação e causa
Em Maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde admitiu que os telefones celulares podem causar câncer cerebral.
Na ocasião, a entidade sugeriu "medidas pragmáticas" para reduzir a exposição à radiação eletromagnética ao usar telefones celulares e outros equipamentos que emitam ondas de rádio de alta frequência ou micro-ondas próximas ao corpo.
Diversos estudos sobre o assunto têm-se multiplicado, com conclusões conflitantes.
Por isso, a Fundação Nacional de Ciências decidiu apoiar um tipo de pesquisa considerado mais adequado por um grande painel de cientistas.
"Os estudos epidemiológicos são limitados por muitos tipos de viés e falhas, e necessariamente seguem as pegadas da tecnologia - eles podem descobrir correlação, mas não causação," explicou o Dr. Yilmaz.
Em geral, uma forte correlação entre um agente ambiental e um efeito observado indica que o primeiro está provavelmente causando o segundo. No entanto, quando não existem mecanismos conhecidos, biologicamente plausíveis, pelos quais a exposição ao agente poderia causar o resultado observado, a correlação deve ser especialmente forte para que os cientistas tirem essa conclusão.
Isto significa que muita gente terá que adoecer para que os estudos estatísticos fundamentem uma conclusão de que há uma ligação entre o uso dos celulares e o câncer.
Efeitos da radiação térmica de micro-ondas
No caso dos campos eletromagnéticos não ionizantes, como os produzidos por equipamentos eletrônicos sem fios, ainda não foram descritos mecanismos plausíveis para a causação do câncer - do tipo "a onda de frequência X induz uma alteração molecular do tipo Y no tipo de célula Z".
A primeira evidência desse tipo foi publicada há pouco mais de dois meses, mostrando que os telefones celulares suprimem o metabolismo da glicose no cérebro - faltaria ainda estabelecer uma eventual ligação entre esse metabolismo da glicose e algum tipo reconhecido de doença.
Já os efeitos da radiação térmica, o efeito de calor gerado pela radiação, são bem conhecidos.
As micro-ondas, por exemplo, quando absorvidas por nossos corpos, causam danos diretos aos nossos tecidos e ao funcionamento de todo o nosso corpo.
Embora mecanismos como o fluxo sanguíneo e o suor possam retardar ou reduzir o acréscimo de temperatura, se a potência de micro-ondas for forte o suficiente, ela poderá cozinhar nossas células da mesma forma que cozinha um bife colocado dentro de um forno de micro-ondas.
Em níveis muito altos isto seria obviamente fatal. Mas, mesmo com potências muito menores, os cientistas já documentaram danos aos tecidos e efeitos adversos à saúde. Em animais, os efeitos vão da má-formação fetal até alterações dos vasos capilares do cérebro.
Modelo Antropomórfico Padrão
Mas, mesmo neste caso, focando-se apenas na radiação térmica, não se sabe muito bem como ou quanto dessa radiação térmica é absorvida, o que pode variar com o tamanho da pessoa, sua postura, sua massa corporal ou a quantidade de água no corpo.
Os estudos que embasam as legislações atuais foram feitos usando "manequins", chamados SAM - Standard Anthropomorphic Model, ou Modelo Antropomórfico Padrão.
"É essencialmente um reservatório com um pouco de água, alguns sais, alguns líquidos que se supõe representem o seu cérebro," explicou o Dr. Leszek Demkowicz, outro membro da equipe que está desenvolvendo o modelo virtual.
"Ele realmente não captura quaisquer detalhes ou quaisquer heterogeneidades. Eles colocam um termômetro dentro do líquido, colocam um telefone celular próximo ao manequim e perguntam 'Quanto está esquentando?', 'Está dentro dos limites regulamentares?'. São assim os padrões exigidos da indústria. Se o manequim ficar frio o suficiente, o aparelho é aprovado," explicou Demkowicz.
Foi por isto que os cientistas decidiram partir para a criação de modelos eletromagnéticos do corpo humano, onde a exposição a diversas potências podem ser simuladas com todas as variações possíveis.
Modelo Humano Virtual
Já existem modelos virtuais de funcionamento do corpo humano há anos.
Mas seu poder preditivo era baixo porque é necessário um poder computacional muito elevado para fazer simulações complexas.
O AustinMan, o novo modelo humano virtual, que foi colocado à disposição de pesquisadores do mundo todo, resolveu todas as dificuldades encontradas até agora melhorando os dados e os algoritmos para tratamento desses dados.
O AustinMan representa o corpo humano com alta-fidelidade com uma resolução de um milímetro cúbico - isto é mais do que as imagens geradas pelos mais modernos aparelhos de tomografia computadorizada e de ressonância magnética.
As simulações usando modelos virtuais do corpo humano não conseguirão responder taxativamente se os telefones celulares causam câncer ou não porque os cientistas não sabem tudo sobre a dinâmica do câncer e outros efeitos adversos à saúde induzidos por diversos fatores ambientais - e tudo o que o pode ser colocado em um modelo virtual é o conhecimento que já se detém.
Mas a pesquisa permitirá o desenvolvimento de equipamentos eletrônicos um pouco mais seguros, bem mais do que aqueles testados com uma "tigela com água e sal em formato de cabeça," segundo os pesquisadores.
O que eles destacam, contudo, é que, mesmo sem ter concluído o estudo, os resultados mostram que "a radiação eletromagnética gerada pela transmissão de dados por equipamentos sem fios é preocupante."
Ligação entre celular e câncer
Veja algumas das pesquisas já divulgadas anteriormente, alertando para possíveis riscos do uso intensivo do telefone celular e seus impactos sobre a saúde:
Celular pode causar câncer, admite Organização Mundial da Saúde
Celular suprime metabolismo da glicose no cérebro
Telefone celular reduz fertilidade masculina
Uso prolongado do celular altera atividade cerebral
O que de fato devemos temer em relação aos telefones celulares?
Celulares e telefones sem fio podem afetar o cérebro, diz pesquisa
Uso do celular causa "cegueira não-intencional"
Fonte: Diário da Saúde
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