Os países em desenvolvimento sempre importaram equipamentos de segunda mão dos países ricos - e não apenas máquinas e ferramentas, mas até fábricas inteiras.
A justifica apresentada é estritamente econômica: os equipamentos são ainda muito novos para serem jogados no lixo e uma fábrica antiga é melhor do que fábrica nenhuma.
Será mesmo?
Falsa filantropia
Mais recentemente, estes negócios ganharam um adicional ainda mais preocupante no campo da informática. O interesse dos países ricos em se desfazer de equipamentos de reciclagem cara e difícil, como computadores e periféricos, é tão grande que eles nem mesmo estão tentando vendê-los, eles os estão doando aos países pobres.
Mas, sob os véus de bons negócios e filantropia, escondem-se mais problemas do que soluções para os países que recebem esses equipamentos.
Além da condenação a uma defasagem tecnológica perpétua, os equipamentos, ferramentas e tecnologias antiquadas impedem que os países mais pobres adotem tecnologias menos poluentes e mais amigáveis ao meio ambiente.
Pesquisadores europeus parecem ter enxergado o problema, ainda que esta questão, do ponto de vista de seus países, seja vista como uma solução - o "envio" de bens obsoletos para outros países representa a exportação do problema de lidar com o próprio lixo.
Defasagem tecnológica e poluição
Benteng Zou e Luisito Bertinelli, da Universidade de Luxemburgo, e Eric Strobl, da Escola Politécnica da França compararam velhas e novas tecnologias e a poluição que elas geram no mundo em desenvolvimento. A análise será publicada no próximo exemplar do International Journal of Global Environmental Issues.
A pesquisa mostra que os negócios de compra e venda de equipamentos usados de fato alavancaram o crescimento econômico no mundo em desenvolvimento nos últimos anos.
A principal razão para a decisão desses países em participar desse tipo de comércio é a falta de capital. Comprar equipamentos de segunda mão tem sido vantajoso para eles porque lhes permite dispor de tecnologias que eles não detinham até então.
Entretanto, a compra de tecnologias mais antigas efetivamente aumenta o nível de poluição nesses países e paralisa qualquer tentativa de diminui-la ou mesmo de retornar a níveis de emissão de carbono de anos anteriores.
Outro efeito danoso aventado pelos pesquisadores é o fato de que essas máquinas exigem mais mão de obra, são menos automatizadas, impõem maiores esforços físicos e riscos à saúde dos trabalhadores e passam grande parte do tempo em manutenção.
Quando adotar uma nova tecnologia
"Nós criamos um modelo que mostra como a decisão de adotar tecnologias mais antigas e mais poluidoras afeta a relação entre o desenvolvimento econômico e a poluição," dizem os pesquisadores.
Os pesquisadores usaram um sistema econométrico chamado "estrutura ótima do capital" (vintage capital structure). Este sistema basicamente analisa os recursos e os diferentes níveis de poluição.
A grande vantagem deste modelo é que ele permite que os pesquisadores determinem quando substituir ferramentas e equipamentos velhos por tecnologias mais recentes e inovadoras. O sistema também permite avaliar o quanto a poluição resultante será afetada por estas mudanças.
"Se assumimos que as tecnologias mais velhas são mais prejudiciais ao meio ambiente, então a decisão de quando sucatear a antiga e adotar outra [em seu lugar] pode ser um determinante importante do grau de poluição que vamos gerar," apontam os pesquisadores.
Adiamento do crescimento sustentável
De uma perspectiva dos tomadores de decisão nacionais, os pesquisadores afirmam que países que optarem por comprar tecnologias mais antigas gastarão menos recursos a curto prazo, mas sentirão o peso de suas decisões a longo prazo.
O resultado, alertam eles, será a geração de mais poluição e uma maior demora no alcance de uma fase de crescimento sustentável.
"As pressões sobre os países em desenvolvimento a fim de que eles reduzam suas barreiras às importações de bens usados, portanto, devem ser contrabalançadas com os custos da poluição adicional que o uso dessas tecnologias mais antigas irá induzir," concluem os pesquisadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário