quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cientistas debatem teorias sobre a origem do câncer

Em artigos publicados no exemplar deste mês da revista científica BioEssays, cientistas de renome internacional na área do câncer discutiram suas controvérsias sobre as duas teorias que tentam explicar a origem do câncer.

Os especialistas apresentaram suas defesas e críticas em relação à Teoria da Mutação Somática - a teoria mais aceita hoje na comunidade científica para explicar o câncer - e a ainda debatida Teoria de Campo da Organização dos Tecidos.

Esta é a primeira vez que especialistas se dispõem e têm a oportunidade de discutir abertamente as controvérsias sobre as duas teorias, defendidas por autores de lados opostos do debate.

Mutação Somática versus Organização dos Tecidos

Ana Soto e Carlos Sonnenschein, ambos da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, argumentam que a Teoria da Mutação Somática (TMS), que se baseia na acumulação de mutações genéticas nas células, não só não consegue dar uma explicação para os fenômenos observáveis na biologia do câncer, como também é uma teoria essencialmente não testável com as tecnologias atuais.

A Teoria da Organização dos Tecidos (TOT) propõe que o câncer é uma doença clonal, baseada nas células, e assume implicitamente que a imobilidade é o estado padrão das células nos organismos multicelulares.

"A TMS é fortemente apoiada por observações das leucemias, que carregam translocações cromossômicas específicas," defende o Dr. David Vaux, do Instituto de Ciências Moleculares La Trobe, na Austrália, em defesa da TMS.

"Talvez a mais forte validação [da teoria] venha do sucesso do tratamento de certas doenças malignas com drogas que visam diretamente o produto do gene mutante," afirma.

Mudar teorias para alcançar resultados

Obviamente, em uma primeira discussão não poderia haver consenso, e cada pesquisador ressalta os pontos que acredita positivos e negativos em cada teoria.

Também, poucos acreditam, dada a variedade dos cânceres - a rigor, cada câncer pode ser enquadrado como uma doença diferente - que alguma teoria consiga dar conta de todas essas realidades.

O mais provável será o desenvolvimento de teorias para grupos mais parecidos da doença.

Este mesmo processo está ocorrendo no campo do Mal de Alzheimer, onde a falta de resultados encorajadores das pesquisas atuais - o que de resto vem acontecendo com o câncer há décadas - tem ensejado a busca de novas explicações para a doença:

* É hora de uma nova teoria sobre a Doença de Alzheimer

Recentemente, cientistas que estudam a AIDS mudaram a estratégia para procurar por uma vacina contra o HIV, também fundamentados na falta de resultados que as teorias até então utilizadas lhes forneceram.

Debate científico

O artigo agora publicado, questionando as teorias sobre o câncer, representa apenas o começo da discussão: a revista pretende manter um fórum permanente para que os cientistas discutam e troquem informações.

"A ciência avança através da exposição clara dos pontos de vista contrários. Criar um novo fórum para o debate vigoroso, que aborda as bases fundamentais do câncer permitirá que os nossos leitores possam decidir por si mesmos!" afirma David Thomas, editor da BioEssays.

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