Potencial energético do café
Durante o cultivo do café, aproximadamente dois milhões de toneladas de cascas de grãos são produzidas por ano no Brasil.
Esse subproduto normalmente vai para o lixo ou é usado para a forração dos terrenos dos cafezais, restituindo parte dos fertilizantes retirados pela planta.
Mas a casca do café tem um potencial energético que pode, em alguns casos, torná-la substituta da lenha, sendo uma opção mais barata e ecologicamente correta para empresas que usam a madeira na geração de energia.
Suprir as necessidades desse mercado significa cortar menos árvores e contribuir para a redução do desmatamento.
Eletricidade da biomassa
Para otimizar esse potencial, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), liderados pelo engenheiro florestal Ailton Teixeira do Vale, fizeram um estudo para demonstrar a importância dos resíduos agroflorestais como fonte de energia, tanto para indústrias quanto em comunidades rurais.
"A casca do café, assim como outras biomassas, pode gerar eletricidade em termoelétricas, a partir da combustão em fornalhas, gerando energia na forma de calor, utilizado para a produção de vapor, que por sua vez é utilizado para a produção de energia elétrica e, em cogeração, outras energias como a mecânica", explica Vale.
Quando usada como combustível, a casca do café, assim como outros resíduos agroflorestais, tem inúmeras vantagens em relação aos combustíveis fósseis.
"Em primeiro lugar, é um combustível renovável, e os compostos liberados na sua combustão são sequestrados pelos novos plantios, fechando o ciclo do carbono, e, portanto, não contribuindo com o efeito estufa. Outra vantagem é a possibilidade de agregar valor a um resíduo que geralmente é descartado e, com isso, gerar emprego, renda e desenvolvimento social nas regiões onde a cultura do café é uma prática", explica o pesquisador.
Combustão, gaseificação e carvão
Espera-se que os dados obtidos a partir desse estudo possam ser utilizados para melhorar a gestão dos resíduos provenientes de biomassa e que isso possa abrir a possibilidade de uso na produção de energia em pequenas comunidades rurais e nas agroindústrias, a partir da combustão, da gaseificação ou da transformação em carvão vegetal, assim aumentando sua participação na Matriz Energética Brasileira.
A agregação de valor ao resíduo, gerando um novo produto, é bem-vinda ao diminuir a poluição do meio ambiente e possibilitar uma qualidade de vida melhor para as pessoas envolvidas no processo ou moradoras da região
"Além de agregar valor ao resíduo, [o uso dessa biomassa] demandará mão-de-obra, equipamentos, capitais, empresas de serviços e toda uma infraestrutura administrativa, industrial e comercial, elevando o nível econômico e beneficiando a sociedade", afirma Vale.
Substituição do petróleo por biomassa
O Brasil é referência internacional na substituição do petróleo por biomassa, embora o assunto esteja repleto de controvérsias.
O maior exemplo é o uso do etanol como combustível para veículos de passeio e de carga - que tem impactos sobre as terras agricultáveis e desbalanceamento do ciclo de nitrogênio, além de consumir água demais.
Na siderurgia, o uso de carvão vegetal na produção de ferro gusa é uma realidade há décadas - com constantes denúncias de uso de vegetação não-plantada, principalmente do cerrado.
Outra frente que tem crescido é a produção de energia elétrica em termoelétricas, principalmente nas usinas de açúcar e álcool e nas fábricas de celulose e papel, a partir de resíduos, com unidades movidas a bagaço de cana-de-açúcar, licor negro, restos de madeira, casca de arroz, biogás e carvão vegetal.
Fonte: CNPq
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