sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Cientistas descobrem como dar "boot" no sistema imunológico

A maioria dos pacientes com esclerose múltipla, doença neurológica crônica de causa ainda desconhecida, tem episódios que são geralmente reversíveis. Mas, com o tempo - geralmente de 10 a 15 anos após o início da doença -, a maior parte desenvolve esclerose múltipla progressiva secundária, que se manifesta na forma de danos neurológicos graduais e irreversíveis.

Um novo estudo, feito por pesquisadores de diversos países, acaba de conseguir reverter déficits neurológicos em estágios iniciais em pacientes com esclerose múltipla a partir do transplante de células-tronco dos próprios indivíduos. As células foram usadas para "reinicializar" seus sistemas imunológicos.

Participação brasileira

A pesquisa, que será publicada na edição de março da revista The Lancet Neurology, conta com a participação de Julio Cesar Voltarelli, do Centro de Terapia Celular (CTC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

O estudo agora publicado foi feito com 21 pacientes, com idades entre 20 e 53 anos, que foram submetidos a tratamento entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2005. O trabalho indicou melhoria nos 24 meses seguintes após o transplante, com o estado clínico se estabilizando posteriormente.

Recuperação da esclerose múltipla

De acordo com os pesquisadores, os voluntários experimentaram melhorias em pontos afetados pela esclerose múltipla, como o ato de andar, a força nos membros, a perda da coordenação muscular, visão e incontinência.

Os pacientes foram submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas autólogas após não terem respondido ao tratamento padrão da doença com interferon beta por pelo menos seis meses.

Reinicializando o sistema imunológico

No estudo, os cientistas trataram os pacientes com quimioterapia para danificar seus sistemas imunológicos. Em seguida, injetaram as células-tronco obtidas do sangue de cada um antes da quimioterapia, de modo a iniciar um novo sistema imunológico.

Três anos após o procedimento, 17 participantes (81%) apresentaram melhoria em pelo menos um ponto na escala de desabilidade e a doença se estabilizou em todos os 21.

Apesar do sucesso, os pesquisadores ressaltam que os resultados do trabalho precisam ser confirmados por novos estudos. Burt, Voltarelli e colegas iniciarão em breve uma nova fase da pesquisa, com um número maior de pacientes.

"Como extensão do trabalho agora publicado, passamos a ter no Hospital das Clínicas FMRP-USP um estudo randomizado, colaborativo, multicêntrico e internacional para testar esse tipo de transplante na esclerose múltipla", disse Voltarelli, que também é professor titular do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP, à Agência FAPESP.

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