Águas servidas não são um lixo imprestável, mas uma fonte de matérias-primas valiosas e de energia, capaz de beneficiar sobretudo os países mais pobres.
Esta é a opinião do Dr. Jules van Lier, da universidade holandesa de Delft. "Lembre-se que 2,6 bilhões de pessoas no mundo não possuem saneamento básico, o que resulta em 200 mortes por hora, com a maioria delas ocorrendo em crianças de até cinco anos de idade," diz o pesquisador.
Recurso valioso
As águas servidas são normalmente vistas como algo desagradável e perigoso, cujo único destino possível é um tubo para que as leve para bem longe.
Entretanto, ao longo das últimas décadas, as tecnologias de tratamento vêm-se tornando cada vez mais eficazes na remoção dos componentes que podem causar danos à saúde.
"Com um exame mais aprofundado, é fácil ver que as águas servidas são na verdade uma corrente rica de matérias-primas valiosas derivadas das atividades econômicas ou domésticas," defende o pesquisador.
Fechando o ciclo da água
Segundo ele, no futuro, as plantas de tratamento de esgotos deverão se transformar em plantas de reprocessamento, capazes de produzir água adequada para reúso, fechando o ciclo de uso da água pelas indústrias e pelas residências.
Mas, se o produto principal será água para consumo, essas plantas de reprocessamento tornarão possível a recuperação de fertilizantes, principalmente dos fosfatos, e a conversão da poluição orgânica em energia.
"Veja o caso das águas servidas no mundo em desenvolvimento, por exemplo. Se considerarmos um percentual de recuperação da energia química de 50%, a energia que você pode gerar a partir dos rejeitos humanos pode chegar a 200 Watts por hora por pessoa. Pode não parecer muito, mas isto seria suficiente para iluminar os bairros pobres da África durante toda a noite," disse van Lier.
Ferti-irrigação da agricultura
Plantas industriais de tratamento de esgotos também poderiam ser de grande valia para o que ele chama de ferti-irrigação da agricultura em áreas secas: "Uma cidade com 1 milhão de habitantes, com um consumo médio de 100 litros por habitante por dia pode teoricamente irrigar e fertilizar entre 1.500 e 2.000 hectares de plantações, dando um destino adequado para os nutrientes dissolvidos nas águas servidas. As áreas agrícolas ainda funcionariam como uma espécie de filtro de areia para purificar a água em sua reinserção no meio ambiente."
O pesquisador concorda que ainda há um longo caminho até que se chegue a uma realidade de total reciclagem das águas servidas.
Para isso, diz ele, é preciso começar pelas cidades menos desenvolvidas, evitando que elas adotem o "estilo ocidental" de descarte das águas servidas, em vez disso criando sistemas de circuito fechado nos quais a reciclagem da água pode ser feita pela própria cidade e pelos cinturões verdes em seus entornos.
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