quinta-feira, 11 de março de 2010

Cientistas defendem mudanças nas orientações sobre mamografia para prevenção do câncer de mama

Será que precisamos de uma revisão das recomendações atuais para a prevenção do câncer da mama?

Diversos estudos têm apontado problemas com a realização de exames anuais, sobretudo da mamografia - Mamografia pode aumentar risco de câncer de mama em grupo de risco e Um terço dos casos de câncer detectados por mamografias pode ser inofensivo.

Agora, um novo estudo prospectivo multicêntrico, realizado na Alemanha e publicado no Journal of Clinical Oncology, concluiu é aconselhável alterar as recomendações sobre esses exames preventivos, sobretudo para as mulheres mais jovens, mesmo as que apresentem um elevado risco de câncer de mama.

Exames para prevenção do câncer de mama

Os resultados da pesquisa confirmam mais uma vez que a ressonância magnética (MRI) é substancialmente mais precisa para o diagnóstico precoce do câncer de mama do que a mamografia digital e o ultrassom de mama: a ressonância magnética é três vezes mais sensível ao câncer de mama do que a mamografia digital.

O estudo incluiu quase 700 mulheres. O objetivo dos cientistas era o de aperfeiçoar as orientações existentes para a elevar a taxa de sobrevivência de mulheres com riscos moderadamente altos e elevados de câncer de mama.

Os resultados sugerem que, nestas mulheres, a ressonância magnética é fundamental para o diagnóstico precoce do câncer de mama - e que uma mamografia ou um exame de ultrassom não aumentam o índice de detecção do câncer em relação ao que é realizado pela MRI sozinha.

Parar com a mamografia

Os pesquisadores concluem que a MRI anual não só é necessária, mas de fato suficiente para o acompanhamento das mulheres jovens com risco elevado de câncer de mama.

Em mulheres submetidas à triagem por ressonância magnética, a mamografia não terá nenhum benefício e sua realização rotineira deve ser interrompida. Além disso, a realização da MRI é importante não só para as mulheres com alto risco de contraírem o câncer de mama, mas também para aqueles com risco moderadamente aumentado.

Falsos positivos da ressonância magnética

A ressonância magnética vem sendo utilizada em conjunto com a mamografia. A taxa elevada de diagnósticos "falsos positivos" e a sensibilidade presumivelmente insuficiente principalmente para o carcinoma ductal in situ (CDIS), uma forma muito agressiva do câncer de mama, foram o principal motivo para desencorajar o seu uso como método único para o rastreio do câncer da mama.

"Neste estudo multicêntrico, com garantia de qualidade básica implementada, não só para a mamografia, mas também para a MRI, fomos capazes de provar que falsos diagnósticos positivos são evitáveis se os estudos de ressonância magnética forem interpretados por radiologistas com a especialização adequada," dizem os pesquisadores.

Neste estudo, o Valor Preditivo Positivo alcançado com a MRI já foi maior do que o da mamografia ou do ultrassom da mama. "Além disso, verificou-se que a MRI oferece maior sensibilidade especialmente para o CDIS", acrescenta a Dra. Christiane Kuhl, radiologista da Universidade de Bonn. "É simplesmente errado afirmar que precisamos de uma mamografia para detectar câncer intraductal."

Comparação entre os exames para detectar o câncer de mama

Entre 2002 e 2007, os pesquisadores recrutaram 687 mulheres que apresentavam um risco moderadamente aumentado de apresentar o câncer de mama (risco de tempo de vida de 20% ou mais). As mulheres foram submetidas a 1679 ciclos de triagem compostos por ressonância magnética anual, mamografia digital anual e exame de ultrassom semestral.

Durante este período de tempo, 27 mulheres receberam um novo diagnóstico de câncer invasivo ou carcinoma ductal in situ (CDIS).

De todos os métodos estudados (mamografia digital, ultrassonografia e ressonância magnética), a MRI foi de longe a mais sensível: a MRI identificou 93% dos cânceres da mama. 37% dos cânceres foram captados por ultrassom. A menor sensibilidade foi conseguida pela mamografia digital, que identificou apenas um terço dos cânceres da mama (33%).

Esses resultados confirmam uma vez mais que a MRI é essencial para a vigilância, não só das mulheres de alto risco, mas também para mulheres com risco moderadamente aumentado de câncer de mama.

Mudança das recomendações médicas

Além disso, os resultados contradizem as diretrizes médicas atuais, segundo as quais a mamografia é considerada indispensável para o rastreio do câncer da mama. Um dos objetivos do estudo era questionar este conceito e perguntar se ainda é adequado exigir que a ressonância magnética só deva ser usada em adição à mamografia.

Os resultados falam por si mesmos: Se o exame de ressonância magnética estiver disponível para a paciente, então o valor acrescentado pela mamografia é literalmente desprezível.

Os pesquisadores concluem que a MRI é necessária, bem como suficiente, para a triagem das mulheres jovens com risco elevado de câncer de mama. Como a mamografia parece ser desnecessária em mulheres submetidas à ressonância magnética, seu uso não é mais justificável e as normas médicas atuais devem ser revistas para refletir essa realidade.

Diretrizes sem evidências científicas

As diretrizes atuais para as mulheres em situação de risco familiar de câncer de mama recomendam uma ressonância magnética anual (com ou sem ultrassom) e uma mamografia anual a partir dos 25-30 anos.

"Estas diretrizes foram criadas com base em pouca ou nenhuma evidência científica e, principalmente, refletem a opinião de especialistas", resume a Dra. Kuhl.

Risco da radiação da mamografia

"À luz dos resultados do nosso estudo, tais recomendações devem ser revistas." Isso parece ainda mais importante porque a mamografia digital usa raios X (radiação ionizante) para detectar câncer de mama, o que pode induzir um risco adicional.

"A dose de radiação associada ao rastreamento mamográfico regular é claramente aceitável e seguro," ressalta Kuhl. "No entanto, o rastreio mamográfico regular geralmente começa na idade dos 40-50. A situação é diferente para sessões anuais de mamografia sistemáticas começando na idade de 25-30 anos."

"Não somente porque essas mulheres farão mais mamografias e, portanto, vão receber uma dose de radiação cumulativa ao longo da vida que será substancialmente mais elevada, mas também porque o tecido mamário de mulheres jovens é mais vulnerável aos efeitos mutagênicos da radiação."

Em conclusão, os pesquisadores defendem uma revisão das orientações existentes: "Já não é justificável insistir no rastreamento mamográfico anual de mulheres na casa dos trinta, se elas tiverem acesso a exames de ressonância magnética."

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