Muitas vezes as imagens entram em nosso cérebro sem serem notadas: a informação visual está sendo processada, mas não alcança a consciência, isto é, não temos uma impressão dela.
Esse processo ocorre, por exemplo, quando dirigimos do trabalho até em casa mas, quando chegamos, não nos lembramos de quase nada no percurso, embora tenhamos parado nos semáforos e controlado o carro adequadamente em resposta ao comportamento dos outros motoristas.
Percepção consciente e inconsciente
Então, qual é a diferença entre a percepção consciente e a percepção inconsciente, e poderiam essas duas formas de percepção serem alternadas através da prática?
Estas questões são importantes não só para a ciência básica, mas também para o tratamento de pacientes com défices perceptuais, devido a lesões cerebrais - depois de um acidente vascular cerebral, por exemplo.
Cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, agora demonstraram que a atenção que o cérebro dá àquilo que os olhos estão vendo pode ser treinada - ou seja, o cérebro pode ser treinado a participar ativamente dessa "visão inconsciente".
Os testes revelaram que as regiões cerebrais responsáveis pelos efeitos da aprendizagem sobre a percepção consciente são diferentes daquelas responsáveis pelos efeitos da aprendizagem sobre o mero processamento dos estímulos.
Processamento maleável
Os estímulos visuais passam por uma série de estágios de processamento em sua jornada a partir dos olhos até o cérebro.
A intensidade da percepção consciente que pode se originar dessa atividade dos neurônios é um dos mistérios que os neurofisiologistas estão tentando resolver.
"Hoje, sabemos que o processamento de estímulos no córtex continua a ser extremamente plástico, ou maleável, mesmo nos adultos", explica Gaspar Schwiedrzik, que investigou os mecanismos neurais da percepção visual com seus colegas Wolf Singer e Lucia Melloni.
Sabe-se por estudos clínicos que alguns pacientes que sofrem cegueira parcial como resultado de dano ao córtex visual feito por um derrame podem discriminar entre estímulos que caem em seu campo visual cego.
No entanto, os pacientes relatam que eles não veem as imagens.
Ainda assim, em alguns casos, a percepção consciente dos estímulos pode ser melhorada com o treinamento.
Aprendendo a ver de forma consciente
Será então possível aprender a "ver conscientemente?"
A resposta é sim, graças a uma série de experimentos em laboratório que treinaram pessoas a enxergar formas geométricas que eram mostradas em uma sucessão rápida e cobertos por uma máscara, o que tornava os desenhos invisíveis.
Depois de vários dias de treinamento, os participantes, todos saudáveis, conseguiram um alto grau de discriminação entre os desenhos.
Observando a classificação da visibilidade dos estímulos - o quão bem os participantes afirmavam estar vendo as imagens - os cientistas concluíram que a percepção subjetiva dos participantes tinha aumentado: as imagens passaram a entrar na consciência.
"Nossos experimentos mostraram que os processos neuronais subjacentes à percepção consciente são muito flexíveis," conclui Schwiedrzik.
A pesquisa é um avanço em relação às conclusões anteriores da equipe, que haviam mostrado que o cérebro pode ser treinado para perceber os estímulos invisíveis - agora ficou demonstrado que é possível treinar o nível de consciência que se tem desses objetos.
Fonte: Redação do Diário da Saúde
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