Mas será que essa matéria está realmente condenada para sempre?
Fuga do buraco negro
As observações sugerem que a sentença definitiva parece não valer para toda a matéria, e que uma parte dela está empreendendo uma grande fuga do maior bicho-papão do Universo.
Ninguém gostaria de estar tão perto de um buraco negro. Apenas algumas centenas de quilômetros de sua superfície mortal, o espaço é um turbilhão de partículas e radiação.
Vastas tempestades de partículas estão entrando no seu próprio inferno, quase à velocidade da luz, elevando a temperatura a milhões de graus.
Normalmente, leva apenas um milésimo de segundo para que as partículas atravessem esse corredor final, mas parece restar um fio de esperança para uma pequena parte delas.
Tecido magnético
Graças às novas observações do Integral, os astrônomos agora sabem que esta região caótica é dominada por uma malha de campos magnéticos.
Esta é a primeira vez que campos magnéticos foram detectados tão perto de um buraco negro.
Mais importante ainda, o observatório Integral relevou que esses campos magnéticos são altamente estruturados e estão formando um túnel de fuga para algumas das partículas.
Os dados indicam que o campo magnético é forte o suficiente para arrancar algumas partículas das garras gravitacionais do buraco negro e afunilá-las rumo ao exterior, criando jatos de matéria que disparam para o espaço.
Radiação síncrotron
As partículas nesses jatos assumem trajetórias em espiral conforme ascendem pelo campo magnético rumo à liberdade, e isso está afetando a propriedade da sua radiação na faixa dos raios gama conhecida como polarização.
Um raio gama, como a luz comum, é um tipo de onda e a orientação da onda é conhecida como a sua polarização.
Quando uma partícula rápida espirala em um campo magnético, ela produz um tipo de luz, conhecida como radiação síncrotron, que apresenta um padrão característico de polarização.
Foi essa polarização que a equipe do Integral encontrou nos raios gama. E não foi fácil.
"Tivemos que usar quase todas as observações já feitas pelo Integral de Cignus X-1 para fazer essa detecção", disse Philippe Laurent, um dos membros da equipe.
Cignus X-1 é um buraco negro não muito distante de nós, que está destruindo uma estrela e se alimentando do gás que emana de seus destroços.
Jatos de matéria
Feitas ao longo de sete anos, as observações repetidas do buraco negro agora totalizam mais de cinco milhões de segundos - o equivalente a uma única imagem com um tempo de exposição de mais de dois meses.
"Nós ainda não sabemos exatamente como a matéria em queda se transforma em jatos. Há um grande debate entre os teóricos; essas observações irão ajudá-los a decidir," diz Laurent.
Jatos em torno de buracos negros já foram vistos antes por radiotelescópios, mas tais observações não conseguem ver o buraco negro com detalhes suficientes para saber exatamente o quão perto do buraco negro os jatos se originam. Isso dá a estas novas observações um valor inestimável.
Fonte: ESA
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