As células-troncos epiteliais são consideradas raras e estão localizadas em nichos específicos.
"A maioria dos trabalhos existentes na literatura é relativo às células-tronco adultas mesenquimais, que podem ser células da medula óssea ou do cordão umbilical, entre outras," explicou Andrea Mantesso.
Mantesso, que é professora doutora de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da USP, coordena o projeto Oral epithelial stem cells - evaluation of response to injury and self-renew capacity, em conjunto com Paul Sharpe, do King's College London, na Inglaterra.
Células-tronco epiteliais
"A caracterização das células-tronco epiteliais é diferente das mesenquimais. Acredita-se, assim como em outros tecidos do corpo humano, que existam células-tronco no epitélio. Mas, como não há muitas pesquisas a seu respeito, sabemos pouco sobre elas", ressaltou Mantesso.
Nas células-tronco mesenquimais - a partir das quais é possível formar osso, cartilagem, tecido adiposo ou neural entre outros - o processo de caracterização não ocorre da mesma forma que nas células epiteliais.
Um grande desafio para os cientistas é isolar a população de células que possuam características de células-tronco epiteliais ou progenitoras. "Para essa fase do estudo, a participação do King's College London é muito importante", destacou.
Durante a primeira etapa, realizada na USP, Mantesso, seu orientando de doutorado Felipe Perozzo Daltoe e Sharpe conseguiram isolar uma população de células da mucosa bucal que expressavam a proteína P75NTR, receptora de neurotrofina e considerada importante, pois distingue uma população enriquecida em células-tronco.
A equipe observou que as células encontradas no experimento proliferavam em maior quantidade e de forma mais rápida que as normais, características comuns às células-tronco e também às células progenitoras.
Engenharia de tecidos
A segunda parte do estudo será realizada em Londres. Embora a equipe já tenha conseguido reconstruir um epitélio aqui no Brasil, Mantesso conta que ainda não há uma denominação definida para as células encontradas.
"Para confirmar o potencial dessas células epiteliais, precisamos realizar mais estudos in vivo", disse.
Isso significa observar mais um comportamento comum às células-tronco epiteliais: a resposta a danos.
"Nessa fase da pesquisa, nossa intenção é estudar as propriedades dessas células, como a migração e a capacidade de reparar uma ferida. Pretendemos também explorar o potencial que elas possam ter para a engenharia de tecidos e aplicar esse conhecimento na regeneração e reparo dos dentes", explicou Sharpe.
Pericitos
Além deste projeto, Mantesso e Sharpe estudaram, com outros colegas, a resposta às lesões nos dentes incisivos pelos pericitos, células que revestem os vasos sanguíneos.
O resultado da pesquisa foi publicado em abril na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
O trabalho procura desvendar a origem das células-tronco mesenquimais por meio da análise de pericitos. Para isso, os cientistas reuniram uma série de informações comuns aos pericitos e às células-tronco, tais como regeneração e se ambas estão vinculadas à vascularidade.
Utilizando camundongos transgênicos, os pesquisadores conseguiram enxergar os pericitos e analisar essas células. E, para surpresa do grupo, eles não eram a única fonte de células-tronco mesenquimais.
"Durante os experimentos, observamos que os pericitos apresentaram as características de células-tronco ou progenitoras, mas eles respondiam somente por parte da origem dessas células. E isso nunca tinha sido mostrado na literatura", enfatizou Mantesso.
De acordo com a professora, a outra população celular ainda é desconhecida, porém, experimentos indicam que esteja relacionada à vascularidade, "pois nos lugares ricos em vasos sanguíneos essas células eram mais presentes", disse.
Fonte: Agência Fapesp
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