O novo material, chamado EndoBinder, foi testado e aprimorado pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP e desenvolvido pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), com tecnologia transferida para empresa privada.
Além do custo menor, o material mostrou melhores resultados no selamento de perfurações dentárias radiculares, ou seja, perfuração de raízes simples e duplas, essas chamadas furca de dentes.
"Nos testes biológicos, em ratos, verificamos que ele trouxe um resultado mais benéfico que o material atualmente utilizado, principalmente na recuperação do tecido no local, pois causa menor inflamação", comemora a professora Fernanda Panzeri Pires de Souza, coordenadora das pesquisas e responsável pelo Laboratório de Análise de Biomateriais, da FORP.
Manchas nos dentes
De acordo com a professora, o EndoBinder também manchou menos os dentes.
"O material que está hoje no mercado, ao final de um ano, apresentou aspecto acinzentado, enquanto o EndoBinder não mostrou diferença visual na aparência do dente ao final do mesmo período", afirma a professora.
As perfurações de raízes podem ocorrer tanto por acidente, durante o tratamento do canal, como por processo inflamatório no local, ou de cárie que deixa a dentina muito fina, ou ainda, por traumas.
Além de testar o selamento da perfuração na raiz, a professora diz que foram modificadas algumas composições, como o radiopacificador, por exemplo, um produto colocado no cimento para que ele fique visível na radiografia.
"Depois disso fomos saber se ele era viável biologicamente. Primeiro testamos em ratos, e ele mostrou um resultado melhor, causando menos inflamação no tecido, do que o produto existente no mercado, por isso levou a uma recuperação mais rápida", aponta.
Obturação de canal
Atualmente a pesquisa está numa segunda fase, de avaliação da possibilidade de utilizá-la para outras finalidades, como cimento obturador de canal, material protetor pulpar e capeamento pulpar, um tratamento realizado na polpa vital, exposta.
"Já vimos que o material é capaz de criar uma barreira mineralizada, selando a exposição e permitindo que o dente continue vivo, ou seja, mais resistente, uma vez que os dentes que perdem a vitalidade, tornam-se mais suscetíveis a quebra", diz a coordenadora dos estudos.
Segundo Fernanda, o objetivo principal dos trabalhos na FORP, além de comprovar a eficiência do novo produto, é desenvolver outras formas de apresentação para permitir sua utilização em várias indicações.
O cimento atualmente utilizado para selar perfurações de raiz, custa em média R$ 250,00 o grama. É fabricado no Brasil, tem boa qualidade, mas, segundo Fernanda, apresenta alguns pontos negativos, como dificuldade para endurecer e de manipulação, o que atrasa o tratamento.
"Além disso, o material tem baixa resistência à compressão, baixa capacidade de escoamento, fundamental para entrar na cavidade dentária, além de alta solubilidade em meio úmido e de provocar manchas nos dentes", observa.
Saúde bucal no Brasil
O EndoBinder, diz Fernanda, tem patente estendida aos Estados Unidos e Europa, de onde os pareceres recebidos, até o momento, comprovam sua originalidade para aplicações na área da saúde. "Os materiais mais próximos, um japonês e outro sueco, respectivamente, se utilizam de adições que tornam seus desempenhos inferiores ao EndoBinder, no que diz respeito à reologia e ou estabilidade dimensional", conclui.
O trabalho feito na FORP já rendeu publicação internacional no Journal of Endodontics, em janeiro deste ano.
Para a professora Fernanda, a saúde bucal do brasileiro melhorou, consequência do melhor momento da situação econômica do País, principalmente nos últimos dez anos, que levou a uma ascensão de grande parte das classes D e E para a classe C.
"Antes, quando uma pessoa tinha necessidade de tratamento endodôntico, muitos optavam pela extração do dente, em função do alto custo. Hoje, com uma melhor condição socioeconômica da população, há possibilidade de tratamentos mais conservadores e o EndoBinder pode atingir justamente essa população, a um custo menor que o material presente no mercado", afirma. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2003, a distribuição de dentes com necessidade de tratamento endodôntico na população brasileira, por faixa etária era de 6,64% até 5 anos; 4,95% até 12 anos; 6,19%, de 15 a 19 anos; 4.30% de 35 a 44 anos; e 3,55% 65 a 74 anos.
Fonte: Agência USP
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