A projeção é do professor Marcos Silveira Buckeridge, do Instituto de Biociências (IB) da USP, que coordena o recém-criado Instituto Nacional de Biotecnologia para o Bioetanol. O grupo reunirá pesquisadores de todo o País para estudar a produção de energia a partir de biomassa.
Depois da autossuficiência, a sustentabilidade
"O Brasil já possui autossuficiência energética, mas precisa caminhar para a sustentabilidade", ressalta o professor. Com um investimento inicial de R$ 7 milhões, o principal foco do Instituto é estudar a cana-de-açúcar.
Buckeridge explica que a partir da cana se produz o açúcar (sacarose), que então é transformado em etanol através da ação de leveduras.
"Quando se faz isso, sobra o bagaço e a palha que fica no campo. Esses dois resíduos contêm açúcares na forma de celulose. Um dos objetivos do nosso Instituto é transformar essa celulose em um tipo de açúcar acessível para a levedura transformá-lo em etanol, chamado etanol celulósico" explica o professor.
Bagaço para gerar eletricidade
Atualmente, o bagaço é queimado para produzir eletricidade para que a usina fique autossuficiente. A palha fica no campo, metade é aproveitada como adubo e o resto é desperdiçado. Outro foco do Instituto é estudar como a cana-de-açúcar responde ao gás carbônico elevado, verificando a fotossíntese, o crescimento e outras condições em diversas variedades de cana que serão melhoradas em laboratório.
Buckeridge explica que a produção existente hoje no Brasil está na chamada primeira geração de produção de etanol, na qual a partir da cana-de-açúcar produz-se sacarose e então etanol. No entanto, as pesquisas caminham para a segunda geração, em que novas variedades de cana, além da sacarose, produzirão mais bagaço e mais palha, ou seja, produzindo mais açúcar (energia).
O professor ressalta também os estudos rumo a uma terceira geração, em que fungos e enzimas melhoradas em laboratório completarão a digestão do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. E por último, a quarta geração: a cana transformada geneticamente se auto-amolece, ou seja, amolece a própria celulose, e um fungo (também transformado) fará o trabalho de hidrólise de uma maneira mais eficiente. "Nosso objetivo é baixar o custo e aumentar a eficiência dos processos", diz o professor.
Pesquisa auto-organizada
O Instituto vem para organizar e agregar todas essas pesquisas num projeto maior e que produza resultados. Antes não havia uma conexão das pesquisas, mas cada pesquisador sabia o que o outro pesquisava e havia uma auto-organização.
"Em 2006 nós fizemos um levantamento e começamos a pensar num programa de integração, pois havia várias pesquisas correlacionadas. Então, em 2008, através de workshops, combinamos e conversamos rumo a uma integração dos laboratórios para a produção do etanol celulósico. Quando surgiu o Instituto de Biotecnologia os laboratórios já estavam interligados" conta Buckeridge.
Integração nacional
O Instituto conta com 29 laboratórios espalhados por seis estados brasileiros e que são divididos em quatro centros: Centro de Fisiologia Vegetal e Biologia Celular, que fará a fisiologia de diversas variedades de cana; o Centro de Caracterização de Enzimas e Engenharia de Processos, que estudará as leveduras, a fermentação dos açúcares, as proteínas e suas estruturas e também a composição da parede celular com o objetivo de melhorar o desempenho na quebra dos açúcares; o Centro de Expressão Gênica, que estudará dados para produzir novas variedades de plantas, modificadas geneticamente, que consigam digerir sua própria parede celular como se fosse um fruto e preparar o sistema para ser digerido pelos fungos; e o Centro de Prospecção de Fungos e Desenvolvimento de Hidrólise Ácida, que estudará fungos que produzem as enzimas de fermentação da biomassa.
"Além dos centros, temos um programa de pesquisa em Bioenergia, o Bioen-Fapesp [da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], do qual eu sou um dos fundadores e que possui R$ 20 milhões em investimentos na área de biomassa. Já temos parte do genoma da cana-de-açúcar mapeado e temos um projeto para mapeá-lo por inteiro, assim como o genoma humano" observa o professor.
"Uma parte grande do Instituto é para divulgação, nós queremos explicar muito bem o que é pesquisa. Apesar de ligados ao governo, estamos abertos a outras fontes, inclusive privadas" conclui.
Fonte: Paulo Roberto Andrade
Nenhum comentário:
Postar um comentário