A descoberta de uma nova propriedade dos nanotubos aconteceu na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, no grupo de pesquisa liderado pelo professor José Maurício Rosolen. Os pesquisadores realizaram experimentos com auxílio de espectrometria de massa e infra-vermelho para chegar a aplicação nos filtros.
Filtro para tolueno
A descoberta no Departamento de Química da FFCLRP aconteceu quando a estudante de doutorado Elaine Matsubara testava filtros para tolueno. Como o grupo já domina a técnica de produção dos vários compósitos de nanotubos de carbono, começou a trabalhar inicialmente no desenvolvimento de um filtro para o tolueno.
"Usamos a queima do cigarro porque o professor Luis Alberto Beraldo de Moraes, da FFCLRP, que também faz parte do grupo, estava estudando a presença de tolueno na fumaça do cigarro. Simulamos uma pessoa fumando, com o filtro normal de um cigarro e com o filtro feito com o compósito", diz o professor. "Para nossa surpresa, um dos compósitos de nanotubo de carbono que estava sendo desenvolvido praticamente zerou os sinais da existência dessas substâncias na fumaça produzida pelo cigarro".
Segredo intelectual
O pesquisador revela que são vários os tipos de compósitos de nanotubos de carbono, mas que somente um apresentou potencial de filtrar essas substâncias, cujo nome é mantido em sigilo devido a um artigo científico em fase de publicação e ao pedido de patente já depositado.
"O que podemos adiantar é que a capacidade de adsorver do compósito de nanotubo de carbono que trabalhamos é a sua interação eletrônica com as moléculas presentes nessas substâncias, ou seja, a capacidade das moléculas de ambos em se interagir e se ligar", ressalta.
Uso pessoal e industrial
A descoberta pode abrir perspectivas não só para a área de saúde, mas para toda a indústria que despeja diariamente toneladas de substâncias nocivas no ar. O professor alerta, porém, que o próprio nanotubo de carbono tem certo grau de toxicidade. "No caso do cigarro, por exemplo, a indústria tem que garantir que nenhum tubinho se desprenda e vá parar na saliva".
Filhos do carbono
Nanotubos de carbono são átomos de carbono dispostos na forma de cilindro, com o diâmetro a partir de 1 nanômetro, uma bilionésima parte do metro. O diamante e o grafite também são materiais formados somente por carbono, o que diferencia cada um desses materiais é a forma de organização e ligação dos átomos. No diamante, por exemplo, cada átomo se liga a quatro outros. Já nos nanotubos eles se organizam em folhas, mas ao invés de estar empilhadas como no grafite, cada folha se enrola em forma de cilindro. Uma única folha dá origem a um nanotubo de parede única, mais de uma folha temos um nanotubo de parede múltipla.
Os nanotubos de carbono, segundo a literatura científica, aparecem como um dos materiais mais importantes na área de nanotecnologia. Existem relatos de que, por serem pequenos e leves, podem chegar ao interior de uma célula e serem utilizados como sensores para diagnósticos médicos.
Desde que foram descobertos em 1991, pelo pesquisador japonês Sumio Iijima, os nanotubos de carbono se tornaram uma grande vedete no meio científico, devido principalmente as suas propriedades que possibilitam inúmeras aplicabilidades, que vão desde a eletrônica até ao armazenamento de energia. Os pesquisadores da FFCLRP trabalham desde 2000 com produção de compósitos de nanotubos de carbono, visando uma série de aplicações não só na área de saúde, mas também em catálise, bioquímica, materiais compósitos, baterias de íons de lítio e células combustíveis.
Fonte: Agência USP
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