A tomada de decisões sobre a ciência - especialmente sobre campos emergentes como a nanotecnologia - deve tornar-se mais democrática e envolver toda a sociedade.
Esta é a conclusão de um relatório feito por um grupo dos mais renomados cientistas europeus, que tem como título Reconfigurando as Responsabilidades - Aprofundando o Debate sobre a Nanotecnologia.
O relatório ressalta de forma enfática que as atuais formas de gestão dos caminhos da ciência estão limitando o debate público, podendo levar à repetição dos mesmos erros feitos quando do surgimento dos alimentos geneticamente modificados.
Evitando males irreversíveis
A recomendação vem juntar-se a um movimento crescente que defende a atuação preventiva no desenvolvimento de tecnologias inovadoras, permitindo que as tomadas de decisão democráticas funcionem antes que os impactos dessas tecnologias tornem-se irreversíveis.
Analisando esse movimento no contexto das nanociências e das nanotecnologias, o relatório argumenta que o debate na área ainda não avançou o suficiente.
De acordo com o professor Phil Macnaghten, que coordenou o trabalho, embora falar de "desenvolvimento responsável" seja um passo na direção correta, isto frequentemente esconde pressupostos desatualizados.
"As tecnologias estão avançando sem uma reflexão adequada sobre por que elas estão sendo desenvolvidas e sobre o que elas podem significar para a sociedade no futuro. O público está interessado em se envolver na deliberação dessas questões frequentemente de grande alcance que a ciência está lidando, e os legisladores e tomadores de decisão precisam encontrar novas formas para garantir que o público seja ouvido, tratado com respeito e informado sobre as políticas científicas."
O professor Richard Jones, até recentemente o principal conselheiro sobre nanotecnologia da agência de financiamento das ciências do Reino Unido, concorda. "Eu acredito que envolver o público na tomada de decisões sobre as ciências pode levar a melhores resultados - assim como ser fascinante e recompensador para os cientistas envolvidos. Se queremos tornar a nanotecnologia uma ciência socialmente mais responsável, nós precisamos baseá-la em pesquisas na forma discutida neste relatório."
Questões sociais e éticas
A necessidade de ação é mais premente pelo fato de que a nanotecnologia tem o potencial para alterar fundamentalmente a vida em seus aspectos mais básicos, o que levanta profundas questões sociais e éticas.
Mais recentemente, tem sido dada atenção às incertezas com relação aos efeitos de longo prazo que a nanotecnologia possa ter sobre a saúde humana e o meio ambiente, mas o relatório indica que as preocupações do público também se relacionam com o tipo de sociedade que estará sendo criado por meio dessas novas tecnologias.
"É ótimo que haja um movimento na direção do diálogo com o público e de um desenvolvimento responsável das novas tecnologias," continua Macnaghten, "mas até o momento esse movimento não avançou o suficiente. No caso da nanotecnologia, nós descobrimos que o público está ávido por ser incluído na formatação do desenvolvimento dessas tecnologias. Entretanto, os tomadores de decisão ainda não estão levando isso em conta integralmente. Nós gostaríamos de ver os termos do debate sendo totalmente refeitos."
Aceitando os riscos
Como aconteceu no debate sobre os alimentos geneticamente modificados, a pesquisa descobriu que a maioria dos não-cientistas concorda que um certo grau de risco é inevitável, mas estão preocupados sobre as motivações que estão levando ao avanço da nanotecnologia.
De fato, a maioria das pesquisas de opinião questionam se os alegados benefícios da nanotecnologia - que vão dos cosméticos à tecnologia da comunicação - serão, na prática, realmente benéficos.
Recomendações
O relatório oferece várias recomendações para os governantes, políticos e tomadores de decisão envolvidos em criar regras para a nanotecnologia e para outras tecnologias emergentes.
As recomendações incluem a necessidade de descobrir novas formas de envolver o público e de evitar políticas que simplesmente reajam a novas descobertas e aplicações depois que elas já se consolidaram.
"Nós queremos que nossa análise seja útil para aqueles que estão tomando decisões na fronteira da ciência. Ao mesmo tempo, reconhecemos o fato de que isto representa um desafio para encontrarmos novas formas de fazer as coisas, diferente de como elas têm sido feitas até agora," conclui Macnaghten.
O relatório agora divulgado está disponível gratuitamente no endereço http://tinyurl.com/ye87fd6. No Brasil, o debate sobre os impactos sociais e ambientais da nanotecnologia é feito pelo projeto Renanosoma (http://nanotecnologia.incubadora.fapesp.br/)
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