O dispositivo, chamado biochip de papel, é composto de papel, reagentes químicos e tinta especial, e permitirá que os resultados sejam conhecidos em, no máximo, 30 minutos.
O novo kit possibilitará o diagnóstico de diabete e mau funcionamento do sistema renal - conheça detalhes de seu funcionamento da reportagem Biochip de papel deixará exames clínicos mais baratos.
Exame de baixo custo
A técnica foi desenvolvida por um grupo de pesquisa da Universidade de Harvard, Estados Unidos, e foi trazida ao Brasil pelo professor Emanuel Carrilho, do Instituto de Química de São Carlos, da USP.
Além do tempo reduzido para se obter os resultados, Carrilho ressalta que o custo é bem mais barato, considerando os materiais utilizados nos testes.
"Além disso, a aplicação permitirá futuramente verificar doenças endêmicas. As vantagens da técnica podem facilitar o governo de países mais pobres no planejamento das políticas de saúde pública", diz o professor.
Kit de exame de papel
Carrilho está preparando em torno de mil dispositivos para os exames. No segundo semestre, está previsto que os dispositivos sejam feitos no próprio Centro de Pesquisas do IPTI. De acordo com o professor, outra vantagem da técnica é a facilidade de uso. "A ideia é que qualquer pessoa tenha acesso à tecnologia", ressalta.
O diagnóstico é feito a partir de um papel poroso e inerte. Em suas zonas de detecção, são colocados reagentes em microquantidades, que podem ser uma enzima, um anticorpo e outras espécies químicas que reagem seletivamente com a substância de interesse do sangue ou da urina. Segundo Carrilho, esses reagentes já são conhecidos pelos especialistas, pois são usados nos exames médicos atualmente empregados em laboratório clínicos.
O dispositivo do papel permite fazer em alguns instantes o diagnóstico ao se observar a sua coloração após a reação química. Atualmente, os laboratórios brasileiros precisam coletar grande quantidade de amostras, ter espaço para geladeiras, além de inúmeros tubos de ensaio e equipamentos caros e a espera pelo resultado leva pelo menos um dia. Em alguns casos, até meses.
Tinta especial
Segundo Carrilho, o que colabora para eficácia da tecnologia é a utilização de uma tinta sólida especial, feita a base de cera, que é impressa no papel. A cera funciona como um solvente hidrofóbico, ou seja, que não se mistura com a água, e isso impede que a amostra se espalhe pelo papel sem controle.
"A reação do reagente com outra substância é feita em líquido, que contém água. A cera impressa no papel impede que a água se espalhe, o que conduzirá a mostra até o ponto desejado do papel", descreve o professor. Isso facilita a observação do papel e permite analisar quantas substâncias reagiram.
Kit para múltiplos exames
O trabalho original da tecnologia surgiu em 2007, elaborada por um grupo de pesquisa de Harvard, com a participação de Carrilho. De 2007 para cá, houve outros experimentos, estudando as possíveis aplicações da tecnologia.
De acordo com Carrilho, a tecnologia pode ser aplicada para diversos exames, inclusive diagnóstico de HIV. Além disso, o professor acrescenta que seu grupo de pesquisa de São Carlos está estudando a utilização do papel para outros fins, como para a detecção de metais pesados em análise de poluição e testes para qualidade de água e alimentos.
Ao trazê-la para o Brasil, o professor do IQSC continua a desenvolver novos dispositivos do papel com seus alunos. "Vi que a tecnologia tinha uma aplicação direta com o Brasil e resolvi adaptá-la à realidade do País. Simplifiquei alguns aspectos do processo para poder ampliar o público atingido", conta Carrilho.
Os primeiros testes serão realizados na cidade de Santa Luzia do Itanhy, Sergipe. A iniciativa faz parte do projeto-piloto da cidade, via Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (IPTI) - um centro multidisciplinar de estudos - que está associado ao Programa Saúde da Família (PSF), do Governo Federal. Pelo planejamento, um agente do PSF irá de casa em casa e fará os diagnósticos.
Fonte: Diário da Saúde
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