Uma "pista" especial, feita de placas de vidro com espaços microscópicos por onde as células se movimentavam, foi encomendada junto ao laboratório francês Cytoo e enviada para laboratórios em diversos países do mundo, que por sua vez se encarregaram de realizar as "provas".
O resultado, segundo os cientistas, pode ajudar a entender a migração de células durante processos importantes, como o desenvolvimento embrionário e a metástase de um câncer.
Deslocamento celular
Um dos organizadores da "competição", o especialista em física do citoesqueleto Manuel Théry, disse que a ideia surgiu como uma resposta à crescente necessidade de observar os mecanismos de deslocamento celular dentro dos organismos.
"Era muito difícil compilar todas as informações sobre a dinâmica da migração celular de todos os campos de pesquisa", disse Théry.
Por isso, explicou o cientista, a ideia de submeter as células às mesmas condições e anotar as diferenças.
Circuito mundial
As "pistas" por onde as células corriam mediam entre 4 e 12 micrômetros de largura por 400 micrômetros de comprimento. Um micrômetro corresponde à milésima parte de um milímetro.
Estas pistas foram enviadas a seis laboratórios na França, Alemanha, Grã-Bretanha, Cingapura e nos Estados Unidos (duas instituições), que realizaram os experimentos.
Durante 24 horas, os cientistas registraram a velocidade de centenas de células e fizeram gravações em vídeo.
Célula mais veloz
A mais veloz foi uma célula-mãe extraída da medula óssea de um feto pela especialista Yuchun Liu, de Cingapura. O tempo registrado foi de 5,2 micrômetros por segundo.
Manuel Théry salientou que, no universo celular, essa é uma velocidade bastante rápida. A segunda célula mais veloz atingiu 3,2 micrômetros por segundo.
Avanços contra o câncer
O especialista Simon Atkinson, do Departamento de Biologia da Universidade de Indiana, ressaltou o fato de as células mais rápidas no experimento serem as células-mãe (em estado primitivo) e as células cancerosas.
As células jovens ou mãe estão programadas para migrar durante o seu estado embrionário para diferentes partes de um organismo, onde se converterão em células especializadas segundo a função a ser desempenhada naquela parte do corpo.
Em um indivíduo adulto, no qual as células já estão formadas e têm funções específicas, há mecanismos para conter esse deslocamento.
"Quando as células se tornam cancerosas, ou altamente perigosas, tendem a sofrer uma espécie de regressão que volta a ativar o programa que as fazia migrar durante o seu estado de desenvolvimento", afirmou Atkinson.
Essa migração é a metástase do câncer, quando a doença que nasceu em um tecido ou região do corpo humano se manifesta em outro.
Corrida de células
O biólogo acredita que a "corrida de células" pode ajudar os cientistas a entender a complexidade do câncer e assim abrir as portas para a descoberta de novas formas de tratamento.
"Cada tipo de câncer é diferente, cada paciente reage de forma diferente e o mesmo câncer em pessoas diferentes tem diferentes comportamentos", afirmou.
"Essa corrida pode nos mostrar o caminho de terapias específicas para cada caso de câncer."
As conclusões do experimento foram apresentadas no congresso anual da Sociedade Americana de Biologia Celular (ASCB, na sigla em inglês), que ocorre em Denver, Colorado, com a participação de mais de 7 mil especialistas do mundo.
Fonte: William Márquez - BBC
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