segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Teoria econômica dominante está fora da realidade, diz pesquisador

Pesquisas no campo da economia provenientes da corrente teórica dominante são geralmente irrealistas.

É mais ou menos como se o Modelo Padrão da Física fizesse previsões incorretas sobre o comportamento das partículas, ou se os químicos afirmassem uma coisa e as reações químicas se comportassem de outra maneira.

Mas, segundo o economista Emilio Cherñavsky, da Universidade de São Paulo (USP), as previsões feitas por economistas de prestígio e por grandes instituições de pesquisa da área tendem a apresentar resultados largamente falhos e imprecisos.

Isso acontece, segundo o pesquisador, porque essas teorias econômicas, e as previsões baseadas nelas, não tentam se aproximar da realidade.

Em vez disso, elas partem de modelos que negligenciam as condições do mundo real. Ou seja, são estudos que só funcionam no papel.

"Esse tipo de modelo não é bem-sucedido em encontrar uma parcela relevante da realidade. Ele negligencia as proposições nesse sentido", coloca Cherñavsky.

O mundo real e o mundo do pesquisador

Para exemplificar a questão, Cherñavsky faz um paralelo entre o mundo real e o que ele denomina "mundinho" criado pelo pesquisador.

"Durante a elaboração de uma teoria, o pesquisador coloca seu modelo dentro de um mundo, onde os problemas e os desafios são ditados só por ele. Ninguém confronta suas informações", descreve o economista.

Para entender a realidade, os economistas devem propor mecanismos para este "mundinho" que também acreditem funcionar no mundo real, podendo assim compreendê-lo.

Nos gráficos é possível, segundo o professor, perceber erros bastante grosseiros cometidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial a menos de um ano do agravamento da crise.

Essas instituições apontavam para 2008 uma expansão da economia de, respectivamente, 80% e 94% a mais do que realmente aconteceu. Para o ano seguinte, 2009, seus apontamentos foram ainda mais errados.

Erros desse tipo acontecem com bastante frequência no cenário econômico. Eles são cometidos por entidades julgadas seguras e confiáveis. Para Cherñavsky, os erros são produto da negligência destes profissionais.

"Os economistas ficam preocupados com critérios como elegância, formalismo, consistência com equilíbrio e tratabilidade matemática dos modelos e não se atêm à aderência desses pontos à realidade", explica.

Previsões econômicas falhas

No Brasil, o Banco Central coleta e divulga semanalmente no relatório Focus as previsões econômicas elaboradas, principalmente, por instituições financeiras e consultorias econômicas.

Essas previsões possuem um papel central na operação da política monetária por parte do Banco Central, afetando decisivamente o valor da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.

"A despeito dessa importância, o desempenho dessas previsões não têm sido satisfatório, pois elas erram muito, mostrando-se pouco exatas," avalia.

Cherñavsky diz que é fundamental que se perceba esse comportamento e se adote uma visão mais crítica das proposições da corrente dominante na ciência econômica.

Saber que dali podem prover erros, faz com que as pessoas tentem encontrar outras ideias e opiniões sobre o estado da economia. "Precisamos mudar as atitudes e mostrar o quanto esse tipo de comportamento tem levado a resultados ruins," completa.

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