Porém, algo mais nesse pequeno peixe ornamental chamou atenção dos cientistas que estudam as características dos peixes na região.
A pesquisa revelou que o peixe ornamental tem uma característica própria na hora de cuidar dos filhotes.
O acará disco produz um muco que, segundo os pesquisadores, é rico em nutrientes e tem função similar ao leite materno nos mamíferos (como acontece em humanos).
O trabalho foi realizado em uma cooperação internacional envolvendo o Centro de Estudos de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), projeto ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Neste processo de alimentação, os filhotes "beliscam" a pele dos "pais" para obterem o alimento.
Leite de peixe
Adalberto Val, responsável pelo lado brasileiro da pesquisa, afirma que foi necessário desenvolver uma nova tecnologia para realizar o estudo.
"Foi desenvolvida uma esponja especial onde coletamos todo esse material, depois dissolvemos essa esponja no laboratório para fazer a análise. Outro fator importante do estudo foi a descoberta que por meio desse muco há a passagem de substâncias essenciais para o crescimento e imunidade do peixe", enfatizou.
Ainda de acordo com as pesquisas, os poluentes presentes na água podem ser passados dos pais para os filhotes onde através do muco os filhotes geram uma espécie de defesa.
"Alguns poluentes são passados por meio do muco e esses poluentes servem para desencadear um processo resistência e essas substâncias", declarou Val.
O "desmame"
As pesquisas revelaram ainda que este tipo de alimentação diferenciada para os filhotes se dá em um período de três semanas onde os pais começam o processo semelhante ao de "desmame". Isso ocorre por apenas três semanas a partir daí o filhote de acará disco já busca seus alimentos motivados pelo afastamento dos pais.
O próximo passo agora é fazer a análise genética para saber quais são os genes responsáveis pelo estímulo à produção do muco com nutrientes que só ocorre no período em que há filhotes.
"O muco é produzido sempre, mas o muco com essa composição só ocorre quando há os filhotes. Deve haver um mecanismo que estimula a mudanças da composição química do muco durante aproximadamente três semanas e após esse período tudo isso desaparece e o filhote começa a ter vida independente", explicou.
A pesquisa deverá ser publicada ainda este ano no The Journal of Experimental Biology, a mais importante publicação internacional na área de biologia experimental.
O Adapta é uma rede de atividades de Biologia Aplicada e tem a proposta estudar as Adaptações de organismos aquáticos da Amazônia.
Fonte: Daniel Jordano
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