As sobras da bucha de sisal, que geralmente são jogadas fora nos processos de fabricação de cordas, podem fornecer uma importante matéria-prima para a indústria de materiais de construção.
A descoberta é da equipe do professor Holmer Savastano Júnior, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP), em Pirassununga.
Os pesquisadores desenvolveram uma técnica para a obtenção de fibras a partir da sobra rejeitada do sisal que pode gerar renda e aprimorar a cadeia produtiva da planta, que envolve hoje, no país, mais de 700 mil pessoas em atividades diretas e indiretas.
Método organossolve
Chamado de polpação organossolve, o processo consiste em dissolver a massa do sisal por meio da aplicação de pressão, alta temperatura e de etanol, que funciona como reagente.
O objetivo da polpação organossolve é quebrar a lignina que mantém as fibras unidas - a lignina é uma macromolécula associada à celulose na parede celular que dá rigidez e proteção às plantas.
Os processos convencionais para obtenção de fibras ou celulose utilizam o método kraft, que, além de envolver um processo químico mais agressivo, é viável somente em larga escala. "Uma grande vantagem do organossolve é ser adaptável a plantas de pequeno porte, o que o torna adequado a pequenos produtores", contou Savastano.
Outro ponto que acentua a função social da nova técnica é o fato de ela aproveitar um rejeito da indústria do sisal. Desse modo, a fibra para reforçar cimento não será retirada da indústria da cordoaria, ramo que mais utiliza o sisal como matéria-prima.
Fibrocimento com sisal
O fibrocimento poderá ser mais um braço da cadeia produtiva do sisal, planta que tem o Brasil como maior produtor mundial. O material obtido da planta do semiárido, segundo a pesquisa, pode entrar na fabricação de telhas, divisórias, suportes de ar-condicionado, caixas d'água e demais estruturas que atualmente utilizam outros tipos de fibras.
Um dos desafios da equipe de Savastano é reduzir a degradação que o sisal sofre em um produto de construção a base de cimento. Como toda fibra natural, ela sofre os efeitos da alcalinidade do cimento, decompondo-se com o passar do tempo.
Por causa disso, as peças de fibrocimento desenvolvidas até o momento contêm um porcentual de fibras sintéticas, como PVA (polivinil álcool) e PP (polipropileno). "Queremos agora aumentar o teor da fibra natural e reduzir o de materiais sintéticos", disse.
Fibras de bambu
Além do sisal, o grupo da USP começou a pesquisar também a fibra de bambu como componente de fibrocimento.
A engenheira agrícola Viviane da Costa Correa, orientanda de Savastano, desenvolve em seu mestrado o processo organossolve aplicado ao bambu. "Estamos estabelecendo a temperatura e o tempo ideais para a obtenção da fibra de bambu", disse Viviane.
Os ajustes sobre a polpação do bambu estão sendo feitos com o apoio do grupo do professor Antonio Aprigio Curvelo, do Instituto de Química de São Carlos da USP.
Além de fornecer fibras para reforço de cimento, o bambu também poderá servir de matéria-prima para celulose e papel. "O bambu é uma gramínea gigante que está presente em vastas extensões do Brasil, por isso esses processos poderão gerar um grande impacto no desenvolvimento econômico do país", destacou Savastano.
Um comentário:
Acredito que dificilmente o bambú seja adotado como alternativa as fibras de eucalipto, principalmente no Brasil que é o maior produto desse tipo de fibra, mas o bambú tem um potencial a ser explorado pelas empresas brasileiras que utilizam mix de celulose fibra curta (eucalipto) + fibra longa (folhosas), daí o bambú seria o substituto da fibra longa, que é importada.
Um outro destino que poderia ser dado as fibras de sisal e bambú é sua utilização na produção de plásticos com maior resistência mecânica e biodegradáveis.
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