O objetivo do Iter, que está sendo construído desde 2007 na cidade de Cadarache, no sul da França, é criar o maior reator de fusão nuclear do mundo, com a capacidade inédita de produzir mais energia do que consome, reproduzindo na Terra as reações nucleares que ocorrem no Sol.
A ideia é gerar pelo menos 500 MW, com 50 megawatts (MW) de energia iniciais.
Até o momento, foi realizada apenas a terraplanagem do terreno de 42 hectares (o equivalente a cerca de 42 campos do tamanho do Maracanã) que irá abrigar o projeto.
No centro da planície atualmente deserta, será construído o gigantesco reator Tokamak, dentro de um prédio de 57 metros de altura, com outros quatro andares subterrâneos.
Por tudo isso, o projeto, que triplicou de orçamento nos últimos anos, é considerado um dos experimentos científicos mais ambiciosos do planeta.
Orçamento apertado
Depois de uma reunião nesta quarta-feira com os membros do conselho do projeto - Índia, China, Coreia do Sul, Japão, Rússia, Estados Unidos e União Europeia (UE) - ficou decidido também que o japonês Osamu Motojima será o novo diretor-geral do Iter, responsável pela manutenção do cronograma e dos custos do projeto.
Em entrevista à BBC Brasil, Motojima admitiu que a sua maior responsabilidade será manter a fase de construção dentro do orçamento previsto.
A primeira dificuldade dele surgiu já no primeiro dia de mandato, já que a UE decidiu limitar a sua participação a US$ 6,6 bilhões, um corte de 9% em relação ao anteriormente previsto.
Como o bloco europeu é responsável por 45% da conta do Iter, Motojima terá que completar a fase de construção - prevista para novembro de 2019 - com cerca de US$ 850 milhões a menos que o prometido.
"Para termos a compreensão das pessoas, temos que nos manter dentro do orçamento. A minha expectativa é que podemos fazê-lo. Senão não aceitaria o cargo", afirmou o diretor-geral, que pretende poupar com mudanças na estrutura administrativa e nos sistemas de compra do Iter.
Na administração anterior, as estimativas de custo do Iter saltaram de 5 bilhões de euros para cerca de 15 bilhões de euros.
Física do plasma
Em meio à crise econômica mundial, o custo triplicado do projeto provocou duras críticas, principalmente depois que a UE propôs financiar o Iter com verbas de fundos de pesquisa de outros estudos ainda não repassadas.
"Isso é um projeto de física do plasma e por isso é interessante, belo, mas não há motivos para tirar verbas de outros belos projetos", afirmou à BBC Brasil o físico Jacques Treiner, da Universidade de Paris.
Para ele, o projeto do Iter tem falhas fundamentais na sua concepção e deveria ser abandonado antes de atrapalhar outros projetos.
Treiner é um dos signatários de uma carta aberta, ao lado do prêmio Nobel Georges Charpak, contra o repasse de verbas europeias ao Iter.
Nela, os estudiosos dizem que o repasse de verbas ao Iter seria o equivalente a 20 anos de pesquisas (sem contar com salários) nas áreas de biologia e física na França.
Incertezas da fusão nuclear
Para alcançar o objetivo do Iter, os cientistas terão que criar artificialmente temperaturas de cerca de 150 milhões de graus Celsius, que por sua vez transformam partículas atômicas em um gás incandescente, o plasma.
O problema é que, até hoje, o máximo de energia obtido por meio de plasma foi o equivalente a cerca de 70% da energia investida em produzir o gás.
Em outras palavras, ainda não se sabe como transformar a fusão nuclear em uma atividade economicamente viável.
No entanto, cientistas envolvidos no projeto acreditam que o Iter seja a melhor forma de obter uma fonte de energia limpa e renovável.
"Nós temos apenas um número limitado de fontes de energia. A fusão é uma delas. O investimento nessa tecnologia vale a pena, porque vai possibilitar uma recompensa de longo prazo, para os seus filhos, netos e bisnetos", afirmou o físico David Campbell, do Iter.
O Iter começou em 1985, quando os então presidentes dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e da União Soviética, Mikhail Gorbachev, decidiram fechar um acordo internacional para desenvolver energia a partir da fusão nuclear.
Os sete integrantes do projeto esperam que seu sucesso não só garanta a energia do futuro, mas divisas referentes aos royalties a serem obtidos com a venda das tecnologias para outros países ou empresas.
Fonte: Eric Brücher Camara - BBC
Um comentário:
Usem a nanotecnologia e criem um micro reator de fusão com base nos tomanakas
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