Os elementos vazados, blocos usados para iluminar e ventilar ambientes fechados, ganharam uma nova propriedade graças a uma pesquisa feita na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
A arquiteta Bianca Carla Dantas de Araújo introduziu mudanças na forma dos blocos que lhes garante isolamento acústico semelhante ao das paredes fechadas de alvenaria. O material utilizado é o mesmo dos elementos vazados comuns, argamassa de cimento e areia.
Elementos vazados
Também conhecidos como "cobogós", o elemento vazado normalmente é produzido na forma de blocos com tamanho de 15 X 20 centímetros (cm). "Seu uso é muito comum no Nordeste brasileiro", explica a arquiteta. "Eles são utilizados para proteger da radiação direta do sol, iluminar e ventilar ambientes naturalmente, de forma passiva (sem uso de energia elétrica), mas não possuem propriedades de isolamento acústico".
No trabalho de Bianca, os blocos tiveram seu formato alterado, com a criação de pequenos desvios para a passagem do ar, de modo a dificultar a propagação das ondas sonoras por meio de fenômenos físicos, como a difração por exemplo.
"A entrada e saída de ar acontece em aberturas com posições diferentes, mudando sua direção e diminuindo o nível de intensidade sonora, que também é absorvida pelo material do bloco", relata Bianca. "Ao mesmo tempo, o formato leva a uma sobreposição de ondas sonoras construtivas e destrutivas, e a inserção de material absorvente dentro do mesmo, que também atenuam o nível de ruído".
Na pesquisa, os cobogós testados foram produzidos em argamassa de cimento e areia, que é o material mais usado em sua confecção, ao lado da cerâmica. Seu melhor desempenho foi identificado nas médias e altas frequências. Submetido a uma frequência sonora de 800 hertz, o bloco vazado registrou uma redução máxima de 37 decibéis. "O valor é comparável ao de uma parede de alvenaria totalmente fechada, sem aberturas", aponta a arquiteta. "Nelas a redução de ruído varia entre 40 e 45 decibéis".
Escala industrial
A produção do elemento vazado procurou utilizar o material mais simples disponível, reduzindo o custo dos testes e permitindo sua futura utilização em grande escala. "Buscou-se obter isolamento acústico definindo uma geometria funcional para os blocos", descreve Bianca.
"Os elementos vazados podem ser colocados nas paredes, comporem fachadas inteiras, ou apenas uma abertura, e ainda adotados como divisórias". Os estudos deverão prosseguir com o emprego de novos materiais na produção dos elementos vazados.
"Além da argamassa de cimento e areia, eles costumam ser feitos em cerâmica, madeira ou vidro", conta a arquiteta. "A ideia é utilizar materiais sustentáveis, como aglomerados de fibras vegetais, como as de coco ou de cana-de-açúcar".
O novo modelo de elemento está em fase de registro de patente, depois do qual será analisada a viabilização da produção em escala industrial. A pesquisa teve orientação do professor Sylvio Bistafa.
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