Em sua pesquisa, ela busca fontes alternativas de células-tronco em material até então desprezado: o sangue da menstruação.
"Nossos resultados preliminares sugerem que o sangue menstrual, material que seria perdido, é boa fonte de células-tronco", adianta a pesquisadora.
Coleta
Conforme esclarece Regina, a coleta do sangue menstrual é semelhante à da urina. As voluntárias recebem o coletor, contendo anticoagulante e antibiótico, e devem recolher o sangue após 24 horas do início da menstruação. Neste exato momento, é preciso fazer a higiene íntima para minimizar o risco de contaminação.
Com o material em laboratório, Karina Dutra Asensi, aluna de iniciação científica, isolou as células-tronco mesenquimais para serem utilizadas na pesquisa.
Tipos de células-tronco
De acordo com a pesquisadora, célula-tronco é uma denominação para todas as células que apresentam capacidade de se diferenciar em diversos tecidos do corpo.
Elas podem ser encontradas em dois estágios: embrionárias, presentes naturalmente no embrião humano e que têm máxima potencialidade, sendo capazes de formar qualquer tipo tecido.
E adultas - encontradas, por exemplo, na medula óssea, sangue, fígado, cordão umbilical, líquido amniótico e placenta -, que apresentam diferenciação limitada. As mesenquimais estão entre elas.
Devido a essa característica, as células-tronco são alvo de muitos estudos pelo mundo. Elas são testadas na recuperação de órgãos frequentemente danificados por doenças degenerativas e traumas, incluindo as cardiovasculares, as hepáticas, as hematológicas, as neurodegenerativas, diabetes tipo 1, acidentes vasculares cerebrais e traumas na medula espinhal.
Motivação para buscar novas células-tronco
Regina explica que a motivação para seu estudo foi perceber que, apesar do grande volume de pesquisas, não há um padrão de excelência. "Observamos que os resultados são variáveis quanto à eficácia das terapias usadas atualmente. Além da rejeição, uma possível explicação é que células provenientes de determinado tecido podem ser mais adequadas para uma doença do que outras e vice-versa", diz a pesquisadora.
Ela afirma que a medula óssea ainda representa a principal fornecedora de células-tronco. A vantagem de sua utilização é que não há rejeição, visto que o transplante é autólogo, ou seja, o material celular é puncionado da medula do próprio paciente. Contudo, em 10 anos de pesquisas com esse tipo celular, os resultados das terapias, aplicadas a algumas enfermidades não hematológicas, apontam benefícios "tímidos" ou transitórios.
Por isso, segundo Regina, há uma forte tendência de a comunidade científica buscar novas fontes, que de preferência não sejam invasivas, como a punção, e que mantenham taxas de rejeição baixas. Para ela, as células-tronco mesenquimais do sangue menstrual atendem às expectativas. "O sangue menstrual é um material descartado, que é obtido sem gerar prejuízos ou desconforto", afirma. "Há estudos que mostram que células-tronco mesenquimais apresentam uma espécie de privilégio imunológico e, portanto, não seriam rejeitadas quando injetadas nos pacientes", explica.
Células-tronco do sangue menstrual
A professora conta que há duas linhas de pesquisa com as células-tronco derivadas de sangue menstrual. Uma delas é avaliar seu uso como camada alimentadora, utilizada para cultivar células-tronco embrionárias no estado indiferenciado. "Antes de serem aplicadas em terapias, as células embrionárias precisam expandir, sem que haja diferenciação celular. E isso é feito, in vitro, com o auxílio da camada alimentadora, que libera fatores para o seu crescimento", explica Regina.
Ela destaca que, atualmente, o método frequentemente empregado é o cultivo de células-tronco embrionárias em fibroblastos de camundongo. Porém, o uso desse tipo de camada alimentadora é incompatível com a clínica, pois não se pode utilizar, em pacientes, células contaminadas com material de origem animal.
Por isso, segundo Regina, a aluna de iniciação científica, Danúbia Silva dos Santos, realizou um estudo comparativo para investigar se as células-tronco derivadas do sangue menstrual seriam capazes de substituir os fibroblastos de camundongos. "Os resultados são conclusivos: elas mantiveram as células embrionárias em seu estágio indiferenciado, com eficiência comparável à camada alimentadora de origem animal, tornando-se uma nova alternativa", diz.
Paralelamente, outra linha de pesquisa, que ficou sob responsabilidade do pós-doutor Deivid Carvalho Rodrigues, avalia a eficiência da reprogramação de células-tronco derivadas de sangue menstrual ao estágio de células-tronco embrionárias.
"Há, na literatura, estudos que reprogramaram fibroblastos adultos, mas com eficiência extremamente baixa e lenta. Nossos resultados mostram que a reprogramação em células derivadas de sangue menstrual foi mais rápida e mais eficiente", conta Regina. Fibroblastos são células predominantes da segunda camada da pele humana, a derme, que têm como uma de suas funções a produção de fibras, como colágeno e elastina.
A pesquisadora explica que a reprogramação é feita aplicando-se fatores de transcrição específicos para induzir que o material genético volte ao seu estágio inicial e indiferenciado. Para ela, "formar células embrionárias, que possuem máxima capacidade de diferenciação, a partir de novos modelos é importante para o avanço das pesquisas com células-tronco".
Células reprogramadas
Para o ano que vem, Regina adianta que serão feitos estudos com as células embrionárias - reprogramadas a partir de células-tronco do sangue menstrual - em camundongos com lesões no coração e no fígado. O objetivo é avaliar sua eficácia como tratamento de doenças cardíacas e hepáticas.
As três etapas do projeto - isolamento, avaliação do seu uso como camada alimentadora e sua reprogramação ao estágio de células-tronco embrionárias - geraram trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais sobre a temática de estudos com células-tronco. "Os nossos trabalhos, devido aos resultados inéditos, estão sendo bem recebidos pela comunidade científica. Além de apresentá-los em congressos, já recebemos um prêmio na XXIV Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental - FeSBE em 2009", conta Regina. "Esse reconhecimento mostra que estamos no caminho certo e, por isso, vamos avançar com as pesquisas", conclui.
Os primeiros estudos com células-tronco datam da década de 60. Embora já tenham se passado mais de 40 anos, pode-se afirmar que ainda falta muito para desvendar plenamente esse emaranhado terreno. Contudo, é fato que a cada nova pesquisa realizada e concluída, é mais um passo para ampliar os conhecimentos sobre a dinâmica das células-tronco e, consequentemente, suas aplicações terapêuticas.
Fonte: Elena Mandarim - Faperj
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