Na semana passada, pesquisadores suíços anunciaram um progresso significativo na utilização desses microrganismos na criação de células fotoeletroquímicas que imitam a fotossíntese.
Os cientistas da USP querem extrair o lipídeo que se acumula nas células deste tipo de bactéria para transformá-lo em óleo diesel.
O novo potencial combustível recebeu o nome de cianodiesel.
O combustível deriva de um dos elementos vivos mais antigos existentes na natureza, as cianobactérias, elemento microbiano de aplicações biotecnológicas variadas e de potencial de desenvolvimento ilimitado.
Bactérias fazem fotossíntese
Os pesquisadores buscam uma matéria-prima alternativa mais viável, tanto economicamente como também mais abundante, e que não envolva concorrência com os alimentos, como o etanol hoje produzido a partir do milho e da cana-de-açúcar.
Enquanto o milho produz 168 litros de óleo por hectare plantado, microrganismos fotossintetizantes podem produzir algo em torno de 140.000 litros por hectare.
"A diferença [é] que não há necessidade de área cultivável e a colheita é contínua,", afirma Caroline Pamplona, membro do grupo no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba.
A pesquisadora acrescenta que a necessidade nutricional das células é simples, o período de produção de biomassa é curto e a concentração de óleo pode chegar a 50%.
"Portanto, produzir biodiesel a partir de cianobactérias pode ser vantajoso," explica. "Outro importante benefício é a utilização de águas residuais e marinhas no cultivo das bactérias".
Clima bom para bactérias
Detentor da tecnologia, que vem sendo continuamente aprimorada, o laboratório Cena, possui uma coleção de culturas com mais de 500 linhagens, procedentes dos mais diversos biomas, tais como manguezais, caatinga, mata atlântica, amazônia e pantanal.
"O clima do Brasil favorece o cultivo de cianobactérias. Além disso, o país apresenta uma grande diversidade desses organismos potenciais para utilização como matéria-prima na síntese do biodiesel", completa Caroline.
A pesquisadora acredita no aproveitamento das propriedades das cianobactérias, que poderão ser grandes geradoras de energia no futuro.
"A engenharia genética pode contribuir com o desenvolvimento de sistemas biológicos novos e mais eficientes, aumentando a viabilidade do cianodiesel", aponta.
Desafios
A tendência de aumento do uso do biodiesel sinalizada pelos órgãos governamentais tem incentivado a busca de fontes renováveis alternativas, menos poluentes e provenientes de recursos naturais.
Feito a partir de óleos vegetais e animais, o tipo de biodiesel mais comum hoje existente resulta de derivados agrícolas, motivo de preocupação dos governos devido o receio de escassez de alimentos.
"Porém, a transição será demorada e enfrentará diversos desafios tecnológicos e políticos," alerta a pesquisadora.
Fonte: Agência USP
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