"As falhas frequentes de nossos lançamentos espaciais, que ocorrem em um momento quando eles estão voando sobre uma parte da Terra que não é visível da Rússia, onde nós não podemos ver as espaçonaves e não recebemos informações da telemetria, não estão claras para nós," afirmou ele.
"Nós não queremos acusar ninguém, mas já existem dispositivos muito poderosos capazes de influenciar as espaçonaves. A possibilidade de que eles tenham sido usados não pode ser descartada," completou.
Radar culpado
A até então bizarra sugestão de que os EUA teriam danificado a sonda espacial russa Phobos-Grunt, provocando seu mau funcionamento e sua queda, agora se transformou em uma alegação um pouco menos estranha.
Um jornal russo informou que um radar de uma base militar dos EUA pode ter acidentalmente danificado a sonda, levando à sua perda.
A nave, lançada em 9 de novembro com o objetivo de buscar amostras de solo da superfície da maior lua de Marte, Fobos, misteriosamente não conseguiu disparar o último estágio do seu foguete, ficando encalhada na órbita da Terra até sua reentrada na atmosfera, no domingo.
Mas quão plausível é a sugestão de que um radar seja o culpado pelo fracasso da sonda?
Qual é a acusação?
Nesta terça-feira, o jornal russo Kommersant citou uma fonte não identificada que afirmou que estão sendo realizados testes na Rússia para determinar se feixes de radar emitidos a partir de uma base militar dos EUA poderiam ter causado uma falha no sistema de energia da Phobos-Grunt, o que impediu seus motores de disparar.
Quais feixes de radar?
A fonte não identificada aponta o dedo para a estação de radar militar dos Estados Unidos no atol de Kwajalein, nas Ilhas Marshall, no Pacífico.
No momento do mau funcionamento da Phobos-Grunt, a fonte diz que a estação estava usando o seu radar para refletir sinais de asteroides, uma técnica padrão para produzir imagens de asteroides e medir suas distâncias.
Assim, qualquer dano infligido pelos EUA à Phobos-Grunt pode ter sido acidental, e não sabotagem, como havia sido sugerido anteriormente por Popovkin.
É possível que um radar danifique uma nave como a Phobos-Grunt?
De acordo com Boris Smeds, um ex-engenheiro de rádio da ESA (Agência Espacial Europeia), é altamente improvável.
Comunicações no espaço profundo, como as que se esperaria que a Phobos-Grunt usasse, usam frequências diferentes das frequências dos radares de observação do espaço, e receptores de naves espaciais são construídos para filtrar frequências indesejadas.
É apenas concebível que um receptor de rádio com filtros ruins na Phobos-Grunt tenha sido danificado por um feixe de radar da base militar dos EUA, mas é difícil imaginar como o dano poderia afetar o sistema de energia da nave.
Outras possibilidades para a culpa ser do radar
Smeds admite que um feixe de radar poderia interferir com a recepção de rádio, deixando uma nave espacial temporariamente "surda".
Ainda assim, o disparo do estágio superior da Phobos-Grunt deveria ser automático, pré-programado na nave espacial antes do lançamento, não dependendo da recepção de um sinal de rádio.
Será que algum dia vamos saber o que aconteceu com a Phobos-Grunt?
Yuri Koptev, presidente do conselho científico e técnico da Russian Technologies State Corporation e um ex-chefe da agência espacial russa, está presidindo uma investigação sobre a falha.
Os resultados deverão ser divulgados em 26 de Janeiro, e deverão ser submetidos a um pesado escrutínio.
A questão tornou-se politicamente tensa quando o presidente russo, Dmitry Medvedev, disse aos jornalistas no final de novembro que encargos financeiros, disciplinares, ou mesmo medidas criminais, poderiam ser usados para punir os responsáveis pelos fracassos recentes da Rússia no espaço.
Onde caiu?
Enquanto isso, as equipes de monitoramento ainda estão trabalhando para descobrir se a Phobos-Grunt atingiu a superfície, e se sim, onde.
As previsões iniciais da agência espacial russa afirmavam que a sonda cairia no Atlântico, a meio caminho entre o Brasil e a Europa.
Mas a reentrada deu-se mais de mil quilômetros a oeste do Chile, o que significa que destroços podem ter atingido qualquer ponto ao longo da América do Sul.
Fonte: New Scientist
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