O sistema, que começou suas transmissões em dezembro de 2007, hoje é utilizado por todas as emissoras da rede aberta, e já atinge metade da população nacional.
A partir de junho de 2016, o sistema analógico será desligado. Entretanto, ainda não existe uma boa maneira de medir a audiência da TV digital - dado importante para o mercado publicitário e para a programação das emissoras.
Um estudo desenvolvido pela Escola Politécnica (Poli) da USP deu os primeiros passos nesse sentido, com um software que é capaz de coletar dados sobre os telespectadores do novo sistema.
Atualmente, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) - responsável pelas medições de audiência - não realiza nenhum tipo de acompanhamento das transmissões digitais.
Medição de audiência da TV
Em relação à TV analógica, "nenhum país usa tão poucos pontos de medição: são apenas 700 medidores na cidade de São Paulo, que verificam se a TV está ligada ou não, e em qual canal, baseado na frequência de sintonia deles," explica Valdecir Becker, que criou o novo sistema juntamente com o professor Marcelo Zuffo.
O Instituto ainda divide seus dados por classe social, idade e sexo, e cada ponto de sua medição equivale a 58 mil domicílios na cidade de São Paulo, o que na visão de Valdecir é pouco, considerando o número de habitantes do país. Entretanto, ele mesmo completa: "Não dá para dizer que não funciona, porque estatisticamente o modelo é correto, e o mercado o aceita bem".
Porém, o método utilizado hoje pelo Ibope não valeria para a TV digital por dois motivos, na visão do pesquisador.
"O primeiro problema é técnico: vários canais podem ser transmitidos em uma mesma frequência no sistema digital, como acontece, por exemplo, na TV Cultura em São Paulo, que exibe a Cultura, a Univesp TV e o Multicultura. O outro é mercadológico: hoje o anunciante precisa de mais dados sobre sua audiência - ele paga sobre a qualidade dos espectadores, e não sobre a quantidade," afirma Valdecir.
Segundo ele, a tecnologia utilizada no exterior também apresentaria falhas: "ela utiliza um sistema de comparação de luminosidade entre as telas do espectador e da emissora. A ideia é interessante, mas demora horas para ser processada, o que inviabilizaria o "minuto a minuto", serviço instantâneo oferecido pelo Ibope".
A TV que vê você
Para tentar resolver o problema das frequências, Valdecir propôs um sistema de medição que utilizasse a NIT (Network Information Table), espécie de identificação que cada canal tem na TV digital, e que chega junto com o sinal.
Valdecir desenvolveu um software que lê esse sinal.
O programa foi testado em baixa escala, em 6 caixas que o continham em pontos de medição diferentes durante 1 semana. Cada caixa enviava informações para um banco de dados que Valdecir controlava em sua casa.
Outra inovação do sistema de Valdecir é a criação de perfis de usuários: cada morador da casa que recebe a caixinha teve a sua identidade criada, e, quando assistia algum programa, seus dados eram também enviados.
Assim, era possível obter diversas informações sobre os espectadores: além dos dados que o Ibope utiliza, o programa desenvolvido pelo jornalista também capta dados como deficiências que impeçam o espectador de assistir à TV (física/visual/mental/auditiva), comportamento online (especialmente nas redes sociais), tempo que vê àquele canal específico (em comparação com o número de horas que assiste TV).
O perfil no intervalo do telespectador também é considerado, assim como se assiste sozinho ou acompanhado e se acessa informações adicionais (vê DVD, blu-ray, assina revista ou jornal, possui TV paga).
Ritmo da tecnologia
Com o sistema, será possível unir informações entre os perfis rapidamente: "Isso ajudará o mercado publicitário na segmentação de seus produtos, além de dar mais informações para quem faz a programação da TV".
Entretanto, isso ainda não é suficiente, uma vez que o projeto de Valdecir não segue uma proporção estatística - ele sugere que um trabalho futuro prove se isso é possível.
Ele ressalta que hoje apareceram muitas maneiras de se ver TV que são deixadas de lado pelo sistema do Ibope: "Muita gente vê TV pelo celular ou na internet. Além disso, um terço das tevês do país não usa o sinal analógico, mas sim via antena parabólica - e também são ignoradas nessa contagem. Precisamos achar um meio de esquecer a plataforma de transmissão e pensar no conteúdo audiovisual que está sendo transmitido", diz.
O jornalista ainda conclui que talvez estejamos andando num ritmo mais acelerado do que conseguimos perceber: "O uso das tecnologias está caminhando mais rapidamente do que a gente consegue entender e mais ainda do que a gente consegue medir".
Fonte: Bruno Capelas
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