Ao menos da tecnologia atual.
Enquanto a Alemanha resolveu banir definitivamente suas usinas nucleares, a comissão de energia do Senado suíço deixou uma porta aberta para tecnologias futuras.
Se nada mudar, tudo o que restará será o trabalho de enterrar dezenas de milhares de toneladas de lixo radioativo das usinas nucleares.
Estocagem do lixo nuclear
Pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), estão testando um sistema de estocagem com barreiras múltiplas, projetado para que o lixo fique seguro por séculos, até tornar-se inofensivo.
Hoje, o lixo nuclear das centrais suíças esfria muito lentamente em imensas piscinas nas próprias usinas e no depósito intermediário de Würenlingen.
Desde 2006, com a moratória votada pelo Parlamento para a construção de novas usinas, a Suíça deixou de enviar o lixo radioativo à empresa francesa Areva, para reciclagem na usina de La Hague.
A reciclagem existe: A Areva afirma que 96% das barras usadas das usinas nucleares francesas voltam a ser enriquecidas para reutilização como combustível.
Os ecologistas do Greenpeace desmentem e dizem que esses dados se explicam pelas exportações ilegais que vão enferrujar em depósitos na Sibéria.
É verdade, quando se trata de nuclear, nada é simples e nem totalmente transparente.
Depósito profundo de lixo nuclear
Alessio Ferrari é um cientista e não um político.
Pesquisador no laboratório de mecânica dos solos (LMS) da EPFL, ele estuda formas pelas quais as rochas poderiam abrigar o lixo radiativo sem que jamais ele entre em contato com o meio ambiente nem com o lençol freático.
É a opção de depósito em camadas geológicas profundas, escolhida pela Suíça e por seus vizinhos. Se, na superfície, o processo parece marcar passo, nos laboratórios a pesquisa avança rapidamente.
"Houve uma forte aceleração no plano europeu, nos últimos cinco a dez anos", diz Alessio Ferrari. "Os cientistas dispõem agora de melhores laboratórios, melhores resultados, uma compreensão de como os solos se comportam quando as condições mudam. O poder público também estimula a pesquisa porque se dá conta que é preciso, enfim, encontra uma solução".
Lixo nuclear com múltiplas barreiras
A parte do lixo radioativo que não pode mais ser reciclada é vitrificada, ou seja, derramada em uma matriz de vidro tida como quimicamente estável.
Mas o lixo ainda é ativo e, portanto, produz calor: até 150° C, durante séculos, até o seu esfriamento total, depois de 10 mil a 100 mil anos.
Nada garante que a radioatividade não vaze do envelope vitrificado.
Então essa primeira barreira não é suficiente.
A segunda é um container de aço. Apesar de ter várias dezenas de centímetros de espessura, o contêiner também não é uma garantia absoluta e milenar contra os vazamentos radioativos.
Isso sem contar as possíveis agressões exteriores, sobretudo da água, que poderia corroer o metal. Em princípio, a rocha é pouco permeável aos líquidos, mas, para não ameaçar os tataranetos, os cientistas preveem uma terceira barreira antes das rochas.
"Não podemos simplesmente colocar esses contêineres no fundo de um túnel," explica Alessio Ferrari. "É preciso um material tampão entre os contêineres e a rocha. O que testamos atualmente é a bentonita, uma espécie de argila que tem a propriedade muito interessante de poder absorver quatro a cinco vezes seu volume inicial de líquido. Quando ela fica saturada, se torna impermeável".
No campus da EFPL, o laboratório testa portanto a resistência da bentonita e seu comportamento em situações de calor, umidade e pressão dos contêineres, que pesarão entre 8 e 26 toneladas cada um.
Meia eternidade
Uma outra parte do trabalho é feita nas encostas do Grimsel e do Monte Terri, na região do Jura, em um laboratório-túnel gerido por um consórcio internacional de órgãos públicos e de institutos acadêmicos, sob o controle da Secretaria Federal de Topologia.
Isso não quer dizer que essa rede de túneis, a 300 metros de profundidade seja o futuro depósito de lixo nuclear da Suíça. Atualmente, a estocagem de lixo radioativo é inclusive proibida.
"As rochas que encontramos aqui existem quase por toda parte na Suíça", explica Alessio Ferrari. O estudo do comportamento da rocha nas mesmas condições exigidas para uma estocagem de material radioativo faz parte de seu projeto
Mas como ter certeza de que o que está sendo testado hoje será válido pelo que parece ser "meia eternidade"?
Alessio Ferrari é consciente do problema: "A escala temporal de um laboratório é limitada no máximo a alguns anos. Para a rocha, 10 mil anos não é nada na escala de tempo geológica e vamos escolher rochas muito estáveis. Para a bentonita, devemos extrapolar através de um modelo matemático".
É melhor, se possível, não se enganar porque o modelo suíço de depósito de lixo nuclear prevê que, uma vez que ele seja fechado, ninguém mais entrará nele.
Fonte: Swissinfo
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