quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Estresse crônico afeta a capacidade de tomar decisões

Uma equipe de pesquisadores portugueses publicou na última edição da revista Science um estudo que demonstra que a exposição crônica ao estresse influencia os processos de decisão.

Este estudo, realizado por pesquisadores da Universidade do Minho e do Instituto Gulbenkian de Ciência, tem impacto na etiologia de várias patologias neurológicas e psiquiátricas, nomeadamente perturbações obsessivo-compulsivas e comportamentos viciantes.

Estresse induz alterações no cérebro

Recorrendo a modelos animais, os autores descobriram que após a exposição crônica a estresse há uma maior tendência para recorrer a hábitos e uma crescente dificuldade em selecionar as ações de forma a alcançar determinados objetivos.

Os investigadores registraram uma atrofia das ligações nos circuitos neuronais responsáveis pelos comportamentos orientados por objetivos (localizados nas regiões denominadas córtex pré-frontal medial e estriato dorsomedial), enquanto os neurônios das regiões cerebrais envolvidas nas ações habituais (no componente dorsolateral do estriado) apresentam um crescimento nas ligações neuronais após o estresse.

Estas alterações estruturais levam a uma vantagem competitiva dos circuitos neuronais responsáveis pelos comportamentos habituais, o que explica por que motivo os indivíduos submetidos ao estresse crônico insistem em comportamentos habituais, mesmo quando as condições não o justificam.

Implicações terapêuticas e no dia-a-dia

As consequências destes achados ultrapassam os limites dos quadros patológicos, sendo relevantes para as nossas atividades diárias. De fato, o estudo agora publicado permite compreender melhor quais os factores que influenciam os processos de tomada de decisão e, em particular, como a exposição prolongada ao estresse afeta os circuitos cerebrais que determinam as nossas decisões, na medida em que há um enviesamento para decisões baseadas em hábitos.

Em última análise, esta descoberta abre novas perspectivas para a modulação dos processos de decisão e poderá ter implicações terapêuticas.

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