Uma pesquisa com o público feita na Europa descobriu que a grande maioria das pessoas superestima os benefícios, em termos de potencial para salvar suas vidas, dos procedimentos de exames para detecção (screening) dos cânceres de mama e próstata.
O estudo, conduzido por Gerd Gigerenzer, do Instituto para o Desenvolvimento Humano Max Planck, foi publicado no último dia 12 de Agosto no Journal of the National Cancer Institute.
Gigerenzer e seus colegas entrevistaram 10.200 pessoas em nove países europeus para avaliar as percepções das pessoas sobre a redução na mortalidade associada a tipos específicos de câncer.
Superestimativa dramática
Os cientistas avaliaram a percepção do público com relação aos exames de mamografia e de toque retal e dosagem de PSA, procurando determinar as fontes das informações sobre as quais o público se baseia para construir suas expectativas.
Os autores descobriram que a maioria dos entrevistados faz uma superestimativa dramática dos benefícios desses exames, e que os médicos e outras fontes de informação parecem ter pouco impacto na melhoria do conhecimento sobre os níveis reais de benefícios.
Cerca de 92% das mulheres superestimam os benefícios dos exames preventivos de mamografia em pelo menos uma ordem de magnitude - ou seja, quase a totalidade das mulheres acredita que o exame preventivo traz o dobro do benefício que ele de fato oferece.
Em relação aos homens e ao câncer de próstata, 89% deles superestimam os benefícios dos exames de dosagem de PSA ou afirmaram não saber os benefícios.
"Conhecer os benefícios de um tratamento é uma condição necessária para um consentimento bem informado e uma tomada de decisão racional," dizem os autores no estudo.
Excessos de diagnóstico e de tratamento
Em um editorial comentando a pesquisa, Lisa M. Schwartz e Steven Woloshin, médicos que não participaram do estudo, destacam ser necessário incluir mensagens mais proeminentes sobre os benefícios dos exames quando da realização de campanhas de prevenção, além de incluir os riscos associados com eventuais excessos de diagnóstico e de tratamento exagerado.
Vendedores de exames preventivos
Os dois médicos afirmam que alguns dos métodos usados pelos pesquisadores influenciam a superestimativa e questionam se a amostra de participantes usada é realmente representativa da população europeia.
Mas eles reconhecem a contribuição do estudo: "Esses alertas não diminuem a importância do estudo," dizem os editores. "Nós precisamos sair da posição de vendedores de exames preventivos e nos mover para uma posição de ajudar as pessoas a perceberem que os exames são uma escolha genuína..."
Prevenção exagerada
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer estabelece que os exames de toque retal e dosagem de PSA não devem ser adotados como norma geral para o rastreamento do câncer de próstata porque não há evidências científicas que suportem tal medida - veja INCA mantém restrições ao exame de toque retal.
Médicos europeus também já descartaram a realização de exames para detecção do câncer de próstata como uma rotina. Outra pesquisa mostrou que esses exames podem ser totalmente desnecessários para homens acima de determinada idade.
Com relação à prevenção do câncer de mama, embora seja bem demonstrado que a sobrevida com câncer de mama depende do diagnóstico precoce, pesquisas também demonstraram que um terço dos casos de câncer detectados por mamografias pode ser inofensivo, o que pode levar ao tratamento desnecessário e a sérios impactos emocionais sobre as mulheres diagnosticadas.
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