Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, já sabiam que a forma mutante do gene humano - um dos três consistentemente associados à esquizofrenia - interrompe levemente a transmissão de sinais químicos entre as células nervosas do cérebro.
O novo estudo, publicado na revista Science, tem foco em genes envolvidos na chamada "plasticidade adaptativa" - a capacidade das células nervosas em compensar uma ampla gama de perturbações e permanecer funcionando normalmente.
Plasticidade adaptativa
Pesquisas feitas com diversas espécies - de moscas-das-frutas até humanos - mostraram que, se uma célula nervosa for funcionalmente comprometida, as células vizinhas podem compensar o prejuízo e restaurar a comunicação normal entre células. Esse tipo de plasticidade adaptativa estabiliza as funções cerebrais, mas as moléculas envolvidas no processo ainda permanecem desconhecidas.
A equipe coordenada por Graeme Davis realizou testes de triagem com 276 genes mutantes, ou "desligados", a fim de determinar se sua ausência teria algum papel na plasticidade adaptativa do sistema nervoso das moscas-das-frutas.
Respostas neurais
Ao contrário do que ocorreu com a maior parte dos genes, a ausência do gene conhecido como disbindina teve grande impacto na plasticidade adaptativa. "A mutação do gene comprometeu completamente a capacidade dos circuitos neurais para responder a uma perturbação experimental - isto é, para ser adaptável", disse Davis.
Segundo ele, a mutação da disbindina foi uma das poucas mutações genéticas a causar tal efeito. "A função singular do gene sugere que o prejuízo à plasticidade adaptativa pode ter uma particular relevância para a causa ou progressão da esquizofrenia", afirmou.
A esquizofrenia geralmente se desenvolve no fim da adolescência ou no início da idade adulta. Segundo o estudo, é possível que as mudanças normais de desenvolvimento nessa fase da vida representem um esforço significativo para as funções neurais.
"Se isso realmente ocorre, a capacidade do sistema nervoso para responder a essas mudanças normais de desenvolvimento - que em certo sentido são perturbações - pode estar comprometida nas pessoas que se tornam esquizofrênicas", disse Davis.
Genes da esquizofrenia
O próximo passo para as pesquisas consistirá em investigar se a ausência do gene disbindina provoca um bloqueio da plasticidade adaptativa em camundongos e se outros genes ligados à esquizofrenia causam efeito semelhante.
O estudo revelou, ainda, uma visão mais geral sobre os mecanismos de plasticidade adaptativa, pois foi possível descartar o envolvimento de inúmeros genes que haviam sido previamente considerados potenciais atores do processo.
"Testamos várias mutações que alteram a função neural. A maioria delas mostrou perfeita plasticidade adaptativa. Isso sugere que existem papéis distintos para os genes na sinapse: alguns apóiam a função neural normal, enquanto um pequeno subconjunto controla a plasticidade adaptativa", disse.
Pesquisas em neurociências
O fenômeno da plasticidade adaptativa, segundo os autores, representa uma área emergente de investigação nas neurociências, reconhecida pela primeira vez há cerca de uma década.
Os primeiros estudos de Davis, que é um cientista pioneiro da área, mostraram que, quando os genes em funcionamento no sistema nervoso das moscas-das-frutas sofrem mutação, o sistema nervoso compensa a modificação e os animais parecem surpreendentemente normais.
Fonte: Diário da Saúde
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