Embora sejam indispensáveis para o tratamento, estas medicações podem não ser adequadas às características fisiológicas dos bebês.
O trabalho da farmacêutica Sandra Brassica recomenda que sejam realizados estudos específicos sobre seu uso em neonatos, que são pouco comuns no Brasil.
"Em relação às funções dos adultos, os recém-nascidos apresentam metabolização incompleta e excreção mais lenta, o que aumenta a propensão a toxicidade pelos medicamentos", descreve a farmacêutica. O estudo analisou 346 medicações prescritas a 79 neonatos nas primeiras 24 horas de internação da UTI do Hospital Universitário (HU) da USP.
Não-licenciados e não-indicados
A pesquisa utilizou critérios brasileiros e norte-americanos de licenciamento na definição de quais medicamentos não eram licenciados ou não possuíam indicação nessa população.
"Medicamentos não-licenciados compreendem os que não apresentam forma farmacêutica adequada para uso nessa faixa etária como formulações extemporâneas, importados e contra-indicados", conta Sandra. A quantidade de medicações não-licenciadas chegou a 58% pelos critérios brasileiros e 53% nos padrões norte-americanos.
"Medicamentos não-indicados envolvem indicação terapêutica, dose, via de administração e uso em faixas etárias diferentes das aprovadas para o medicamento", acrescenta a pesquisadora. O número de fármacos não-indicados foi de 9,5% no padrão brasileiro e 10, 9% no critério dos EUA.
Doses proporcionais
Sandra relata que nos casos de utilização de medicamentos não-licenciados e sem indicação, as doses são calculadas proporcionalmente ou utilizadas de acordo com relatos de caso da literatura médica.
"Essa extrapolação de dosagens pode não refletir as características bioquímicas e fisiológicas específicas dos recém-nascidos", ressalta. "Do mesmo modo, a quantidade e a afinidade das proteínas plasmáticas e a diferente proporção entre água e gordura nesses pacientes podem interferir na distribuição dos fármacos pelo organismo, além do pH mais alcalino do estômago influenciar no processo de absorção."
Anestésicos e anti-inflamatórios
Os medicamentos mais utilizados na UTI neonatal são os antimicrobianos, categoria que possui maior número de representantes licenciados para essa faixa etária.
"As principais medicações não-licenciadas são as que atuam no sistema nervoso central e para analgesia e sedação, pois os pacientes são submetidos a muitos procedimentos dolorosos", diz a farmacêutica. "Nesse grupo também se encontram alguns antimicrobianos e medicamentos que atuam no sistema cardiovascular."
A pesquisadora aponta que essas classes de fármacos não-licenciados coincidem com as categorias prioritárias para estudo em neonatos, propostas por especialistas dos EUA em 2005.
Remédios para recém-nascidos
Na pesquisa, a exposição a pelo menos um fármaco não-licenciado se estendeu a 66% dos pacientes, enquanto no caso dos não-indicados, o índice chegou a 20%, segundo os critérios brasileiros.
"Tanto no Brasil como no exterior, são poucos os medicamentos licenciados e indicados para essa faixa etária", aponta Sandra. "Há um número maior de pesquisas sobre medicações para crianças, mas a preocupação com os recém-nascidos ainda é recente".
A farmacêutica conclui que "novas pesquisas vão permitir o reconhecimento dos medicamentos utilizados com maior frequência nesta faixa etária, podendo servir de subsídio para ações sanitárias e governamentais diminuindo assim a utilização de medicamentos de forma empírica".
Fonte: Diário da Saúde
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