Elas não conseguem prever o próprio comportamento diante de uma situação hipotética.
Isso acontece devido à forma peculiar como estas pessoas se relacionam com o mundo.
Inseridas no espectro do autismo, elas apresentam dificuldades na comunicação, abstração e socialização, e compreendem apenas alguns aspectos da morte.
Dimensões da morte
Um estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP comparou jovens, com idade média de 19 anos, e concluiu que portadores da síndrome de Asperger conseguem entender melhor a morte do que os deficientes intelectuais leves, mas apresentam prejuízo neste conceito quando comparadas às pessoas sem psicopatologia.
A psiquiatra Letícia Calmon Drummond Amorim apoiou-se sobre o conceito de morte de Jean Piaget. "Segundo o epistemólogo, enquanto se desenvolve, a criança apreende as três dimensões do conceito de morte: universalidade (todos os seres vivos morrem), irreversibilidade (não há retorno à vida), e não-funcionalidade (as funções vitais acabam com a morte)" relata a pesquisadora.
Letícia percebeu que, em quaisquer das três dimensões, o grupo de pessoas com síndrome de Asperger tinha o conceito de morte prejudicado em relação ao grupo de voluntários sadios.
Mas eles se saíram melhor do que o grupo com deficiência leve nas dimensões universalidade e não funcionalidade. E, assemelharam-se a este último grupo apenas em não compreender sobre o entendimento quanto à irreversibilidade.
Dificuldade em entender a morte
A psiquiatra diz que "pessoas do espectro do autismo não conseguem ter uma compreensão ampla sobre a morte, por terem déficits na teoria da mente [saber se colocar no lugar do outro e prever suas ações], da coerência central [não conseguem perceber o contexto geral, pois focam em detalhes] e da função executiva [planejar estratégias para resolver o problema]".
Por exemplo, ao ser questionada sobre o que aconteceria se morresse, a pessoa limita-se a responder que não sabe, pois nunca morreu.
Já em relação à coerência central, por exemplo, ao se mostrar uma fotografia com vários animais e perguntar o que esta pessoa está vendo, ela irá responder o animal que lhe chama mais atenção, em vez de falar que há vários animais diferentes - ela não consegue observar a foto em sua totalidade.
Por fim, quanto à função executiva, pessoas do espectro do autismo tendem a solucionar problemas apenas por repetição de atos ou por meio de atitudes objetivas, pois não conseguem elaborar estratégias viáveis, de forma abstrata, para resolvê-los.
Fonte: Agência USP
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