"Estas células têm a capacidade de se transformar em tecidos diferentes do corpo", conta a dentista Daniela Bueno, autora da pesquisa feita na Universidade de São Paulo (SUP), em que foi desenvolvida a técnica.
O procedimento pode originar uma terapia com células-tronco para implantar dentes e tratar deformidades no crânio e no rosto, como o lábio leporino, uma fissura no lábio, céu da boca e osso alveolar (que sustenta os dentes e a gengiva). De acordo com a pesquisadora, o pedido de patente foi tornado público na semana passada.
Tratamento do lábio leporino
Daniela conta que o objetivo da pesquisa era aperfeiçoar o tratamento do lábio leporino.
Durante o tratamento, os cirurgiões cortam um pedaço do músculo orbicular, que é descartado. Eles também precisam retirar um pedaço de osso do quadril, que implantam no osso alveolar.
"O tratamento dói muito", esclarece Daniela. "A pessoa pode ficar sem andar por uma semana. Além disso, esses tratamentos craniofaciais podem não funcionar em 30% dos casos, o que exige uma nova intervenção cirúrgica".
Células-tronco de tecidos musculares
Tecidos musculares costumam ser fonte de células-tronco. Assim, por que não utilizar o resíduo da cirurgia para criar um tecido ósseo e implantá-lo no próprio paciente sem possibilidade de rejeição? Daniela procurou as células no músculo orbicular, isolou-as, testou-as em culturas de células e em ratos.
Na cultura, as células-tronco se mostraram capazes de originar quatro tipos de tecidos diferentes do corpo: ossos, músculo, cartilagem, e tecido adiposo (composto por células que armazenam gordura). Restava saber se elas funcionariam em um modelo animal.
Célula-tronco gera osso
Para testar, Daniela abriu dois buracos no crânio de ratos e implantou em um deles amostra de células-tronco do orbicular combinada com uma substância que estimula o crescimento ósseo. Do outro, apenas a substância.
O resultado: começou a crescer osso com presença de células-tronco humanas na fissura que recebeu células-tronco. "Se colocarmos uma célula-tronco indiferenciada associada a biomateriais no meio do osso, o meio sinaliza para que elas virem osso. O mesmo acontece com os músculo e cartilagens", descreve a pesquisadora.
Implantes ósseos na face
Uma grande dificuldade que os cirurgiões plásticos e dentistas têm que enfrentar é a falta de ossos na boca e na face. Pacientes que perdem dentes, por exemplo, acabam ficando sem um pedaço do osso alveolar e isso torna o implante impossível.
Doenças craniofaciais costumam ter um tratamento demorado e muitas vezes doloroso. Pacientes com microssomia hemifacial, que nascem sem os ossos da parte de baixo de um dos lados do rosto, precisam instalar um aparelho para aumentar os ossos da mandíbula. Eles precisam ir todos os dias ao médico para ajustar o aparelho, que ajuda o osso a crescer.
"Nossa idéia é, um dia, poder implantar as células-tronco que vêm desse músculo e se transformam em ossos para tratar as deformidades da boca e do rosto", informa a pesquisadora. "No mundo todo, já se usa células-tronco com materiais biológicos para tratar lábio leporino. Contudo, os médicos retiram essas células da medula do osso do quadril. E isso dói". É possível conseguir amostras do músculo orbicular em um consultório comum de dentista, com anestesia local. A dor dura uma semana, como a de uma afta.
O trabalho de doutorado de Daniela foi coordenado pela professora Maria Rita Passos Bueno, do Instituto de Biociências (IB) da USP, e teve como co-autoras a professora Mayana Zatz e Irina Kerkis, pesquisadora do Instituto Butantã.
Fonte: Diário da Saúde
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