Adicionar novas informações sensoriais ao cérebro, como receptores visuais sensíveis a diferentes comprimentos de onda da luz, somente é possível nos primeiros anos de vida, quando o cérebro está no auge de sua plasticidade. Mas a nova pesquisa mostra que, no caso de distinguir cores, a história pode ser diferente.
O grupo responsável pelo estudo, composto por cientistas de diversas instituições norte-americanas, usou macacos-de-cheiro (Saimiri sciureus), primatas de pequeno porte (os adultos têm cerca de 700 gramas) que vivem em diversos países da América do Sul, entre os quais o Brasil. Os machos de tal espécie são naturalmente incapazes de enxergar cores.
Terapia genética com vírus
Os pesquisadores introduziram genes para fotopigmentação presentes em algumas fêmeas em células fotorreceptoras nas retinas de dois machos adultos. A introdução se deu por meio de vírus inofensivos. Os genes produziram proteínas chamadas opsinas, que atuam para a produção, na retina, de pigmentos sensíveis ao vermelho e ao verde.
Cinco semanas após o tratamento, testes físicos e comportamentais comprovaram que os animais passaram a distinguir entre as cores verde e vermelho, o que não conseguiam fazer antes da terapia genética.
"Nada aconteceu nas primeiras 20 semanas. Mas soubemos imediatamente quando começou a funcionar. Foi como se eles acordassem e passassem a ver cores. Os animais sem dúvida alguma passaram a responder a cores que até então eram invisíveis a eles", disse Jay Neitz, do Departamento de Oftalmologia da Universidade de Washington, outro autor da pesquisa.
Aumento das capacidades sensoriais
Ao mostrar que é possível adicionar capacidades sensoriais em primatas, o estudo indica que o cérebro pode ser capaz de se reprogramar com informações completamente novas, mesmo após o fim do período inicial e crítico para o desenvolvimento cerebral.
O daltonismo, problema hereditário caracterizado por uma anomalia na visão das cores, é o distúrbio genético mais comum em humanos. Os pesquisadores destacam que ainda serão necessários muitos estudos para que se desenvolva uma cura para o problema em humanos, mas que os resultados da pesquisa são animadores, inclusive para outras doenças.
"Mostramos que podemos curar o problema em um primata, e que podemos fazer isso de maneira segura. Isso é extremamente encorajador também para o desenvolvimento de terapias para doenças que causam cegueira em humanos", disse William Hauswirth, professor de genética molecular oftálmica na Universidade da Flórida, um dos autores do estudo.
Dalton
Os pesquisadores deram a um dos macacos o nome de Dalton - o outro é Sam - em homenagem ao químico e físico inglês John Dalton (1766-1844), conhecido por seu trabalho pioneiro no desenvolvimento da teoria atômica moderna e por sua pesquisa sobre a incapacidade de enxergar cores. Dalton era daltônico, condição que desde então leva seu nome.
Fonte: Diário da Saúde
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